



Preconceito, o esporte dos idiotas
Enquanto escrevo este artigo, o mundo gira a milhão e os casos de preconceito racial se multiplicam. Acabo de ler que o Faustão usou uma parte de seu programa hoje, domingo 27 de Abril, para desabafar sobre o comentário que fez acerca dos cabelos de Arielle Macedo, dançarina da cantora Anitta, e que tomou os blogs e páginas das redes sociais de grupos ligados a causa racial. Em sua defesa, Fausto Silva disse que não é preconceituoso, que tem em sua equipe diversos negros e que eles não estariam com ele se fosse racista.
Acredito no Faustão. Ele não é racista. Mas para um apresentador de TV com a visibilidade que ele possui, hum... ele foi extremamente descuidado e irresponsável!
O que o Faustão desconhece, e por motivos óbvios, é que nas ruas as pessoas de mente fraca não se importam com suas opniões pessoais, elas apenas reproduzem o que ouvem. E quando as palavras proferidas são pejorativas elas transformam-se em adagas verbais, usadas para humilhar, ferir, matar ou rebaixar. Elas ganham essa dimensão nas salas de aula, nas esquinas, nos campos de futebol... sim, os campos de futebol.
Desde pequenos, os meninos e meninas criados nos subúrbios sabem que o campo de futebol é o lugar mais democrático do mundo! Seja gordo ou magro, pequeno ou baixo, careca ou cabeludo, preto ou branco, nos campos de várzea espalhados Brasil afora não existe discriminação, a não ser que seja um pereba, aí fica de fora. Porém nos últimos vinte anos cenas de preconceito racial nos campeonatos da Europa - principalmente no leste europeu, onde o etnocentrismo é histórico - tem se multiplicado e sido veículadas sem nenhuma restrição mais séria por parte das autoridades. Torcedores imitando o som de macacos, bananas sendo jogadas aos campos, faixas com frases discriminatórias, jogadores de descendência africana e latina sendo agredidos. Em uma era de massivos avanços tecnológicos - possuímos internet, telefones celulares, deciframos o genoma humano, transplantamos órgãos, fomos ao espaço e descemos ao fundo do oceano - essa mentalidade retrógrada é tratada como uma espécie de qualidade. Desde o cidadão mais diminuto ao mais glamouroso, avançamos os anos, mas continuamos a tratar nosso semelhante com desdém.
A ciência já a bastante tempo descobriu que não existem raças. Biológicamente falando somente animais são separados em raças, exemplo: o filhote de um cão labrador com uma cadela dálmata ainda é um cão, mas é hibrído, uma raça distinta que une características das duas originais. No caso do homem não há raças ditintas. Preto, branco, amarelo ou vermelho, somos todos raça humana.
Esse dado expõe mais ainda a falta de capacidade intelectual do racista.
Os casos de racismo no futebol vem se tornando cada vez mais comuns em todos os lugares do mundo, na Copa Libertadores das Américas o jogador Tinga do Cruzeiro foi hostilizado quase que simultâneamente ao árbitro Márcio Chagas, que também sofreu ofensas raciais e agressão durante a partida válida pelo campeonato gaucho entre o Clube Esportivo Bento Gonçalves e o Veranópolis Esporte Clube Recreativo e Cultural, no estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. As




Esta foto foi tirada em 1889, na capital, (Rio de Janeiro) um ano após a abolição da escravatura.
Esse casal estava entre os milhares de negros libertos que se espalharam pela cidade sem ter para onde ir.
ofensas raciais prosseguiram depois a partida. Vale ressaltar que a torcida do Cruzeiro que saiu em apoio ao jogador Tinga, constantemente ofende o jogador Richarlyson, do Atlético Mineiro, acerca de suas opções sexuais. E como não lembrar o caso do oposto da seleção brasileira de volêi, o jogador Wallace, em março do ano passado em Belo Horizonte durante jogo do Vivo/Minas com seu time a época, o Sada/Cruzeiro, onde foi chamado de macaco durante um saque. A queda de rendimento do jogador após a ofensa foi clara e após a partida ele declarou: "É muito revoltante escutar uma coisa dessas, não dá para aceitar. Foi até melhor eu não ter conseguido ver a pessoa, pois eu podia ter perdido a cabeça na hora. Isso me tirou um pouco do jogo". No último domingo (27) o jogador de futebol Daniel Alves foi hostilizado durante a partida do Barcelona, seu time, com o Vilareal. Em resposta a ofensa - uma banana atirada ao campo - o jogador pegou a fruta do chão, descascou e comeu ignorando os insultos e prosseguindo com seu jogo.
Nesta mesma semana foi divulgado pelo site TMZ, uma conversa entre Donald Sterling de 81 anos, dono do time de basquete norte americano, Los Angeles Clippers e sua namorada, V. Stiviano, onte este se mostra indignado com o fato de ela ter postado uma foto com o astro Magic Johnson em seu instagran.
Essas manifestações de intolerância não são fato novo e engana-se quem pensa que vai acabar aqui. A diferença hoje é que devido o advento da internet, as informações se tornaram mais compartilhadas, mais rápidas, mais propagadas. Na década de vinte negros eram excluídos de times de futebol, sendo o Vasco da Gama o primeiro time a ter um elenco interracial (o primeiro time a aceitar um negro foi o Bangú) e ser perseguido por setores da imprensa da época. O atleta e ativista civil James Cleveland "Jesse" Owens nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, auge da propaganda ariana do regime nazista que pretendia a consagração dos atletas brancos alemães, conseguiu o feito histórico e político de conquistar quatro medalhas de ouro. Anos mais tarde, Owens demonstrou sua mágoa, não contra Hitler, que segundo a história rejeitou cumprimentá-lo - embora hajam relatos discordantes - mas sim contra o então presidente norte-americano Flanklin Delano Roosevelt que sequer lhe enviou um telegrama o cumprimentando pelas quatro medalhas de ouro conquistadas: "É verdade que Hitler não me cumprimentou, mas também nunca fui convidado para almoçar na Casa Branca." - Disse certa vez. Os casos são muitos e se acumulam em uma extensa lista de injúrias, injustiças e superação por parte dos injustiçados.
Seja no meio esportivo ou no cotidiano, os casos de preconceito e segregação são uma chaga aberta e purulenta que constantemente tenta ser ocultada pela mídia ou poderes interessados na passividade popular. As autoridades civis e entidades esportivas declaram sua desaprovação através de notas oficiais, porém não aplicam punições diciplinares significativas, e quando aplicam punições, são risíveis e mais constrangedoras a quem pune do que ao punido. Tentam propagar a fábula de democracia racial e respeito entre os pares, mas não existem esforços educacionais concretos neste sentido, o que leva a crer que, apesar de medonho, o preconceito que é inerente ao ser humano, faz parte da cartilha destas entidades. Muitos dos que discurssam repudiando as atitudes racistas são preconceituosos até o talo.
Preconceito é um sentimento, fruto de condicionamento cultural ou deformação mental, mas sempre incorrigível. Não se legisla sobre sentimentos, não se muda um habito de pensamento ou uma convicção herdada por decreto.
Discriminação racial é o preconceito determinando atitudes, políticas, oportunidades e direitos, o convívio social e o econômico. Não se pode coagir ninguém a gostar de quem não gosta, mas qualquer sociedade democrática, para desmentir o nome, deve combater a discriminação por todos os meios – inclusive a coação.
“Nenhum racismo é justificável, mas o ressentimento dos negros é. Construiu-se durante todos os anos em que a última nação do mundo a acabar com a escravatura continuou na prática o que o tinha abolido no papel
Por Luis Fernando Veríssimo em texto publicado pelo autor em 2007

Sobre idiotas e bananas
Estive super atento a polêmica das bananas esta sema. No facebook estive afiado, postei indignação mais ao hastag rídiculo #somostodosmacacos do que ao episódio com o Daniel Alves em si.
O lance do Daniel Alves foi um fato muito isolado. Em momento algum ele pensou: "Po vou agir de uma maneira que vai abalar as fundações do racismo no mundo!" - tava mais para: "Dane-se, vou mostrar que não to nem ai pra essa babaquice. Caguei!"
O que me deixou fulo foi o fato depessoas que nunca se debruçaram sobre o tema apesar do poder de mídia que possuem se aproveitarem da situação para trabalhar algo que sequer entendem, porque se entendessem, com os recursos que tem, a campanha seria outra.


Neymar e seu filho. Enganjamento ou jogada publicitária?
Durante toda a semana a grande mídia divulgou imagens de personalidades esportivas, musicais e ligadas as artes cênicas comendo ou posando com bananas em seus perfis nas redes sociais. Personalidades estas que nunca demonstraram um enganjamento sequer na causa anti-racista apesar da abrangência de suas opniões. O Brasil é um país extremamente racista. A sua diversidade étnica não é retratada em programas de televisão, não é vista nos escritórios ou nos cargos de influência das grandes empresas, com muito custo aparece em campanhas publicitárias e quase nunca nas universidades. Apesar de 51% da população brasileira se delarar negra você não encontra esse percentual proporcionalmente distribuido nas profissões de destaque. Você encontra em massa nas portarias dos prédios, nos pagodes e bailes funks de subúrbios e comunidades, nos presídios, sufocando em ônibus, trens ou vans superlotados.
Foi preciso Daniel Alves sofrer um insulto para os formadores de opnião opinarem?
Eu penso que a causa não foi tão altruísta assim.
Eu penso que a causa não foi tão altruísta assim.
É só pensar no Luciano Huck. Apresentador líder de audiência dos sábados que como ninguém sabe tirar lágrímas do expectador e angariar vários pontos no ibope com os quadros de seu programa: lata-velha, agora ou nunca e o cacete a quatro! Foi uma das primeiras personalidades a aderir a campanha iniciada por Neymar e sua agência publicitária, para logo depois ver nisso uma maneira de capitalizar com a venda de camisas de sua grife, a R$69,90.
Se houvesse um minímo de preocupação real acerca do tema, o dinheiro arrecadado com a venda das camisas seria destinado a alguma instituição ligada a inclusão e promoção social de comunidades marginalizadas, a alguma instituição que luta contra o preconceito racial no Brasil, que é histórico e relega a terceiro plano toda uma geração de afro-descendentes.
Se fosse uma campanha séria não usariam macacos ou bananas para combater o racismo.
O pesquisador Athayde Motta, que se dedica há quase vinte anos ao estudo de questões raciais no Brasil, vê problemas nessa campanha, ele acredita que ela pode sim reforçar o racismo.
Ele considera positivo o fato de jogadores de futebol responderem publicamente aos racistas que os atacam em campo, mas acha que a associação da figura da pessoa negra com o animal macaco é ruim na luta pela igualdade racial. "O perigo é você, querendo fazer o oposto, reforçar o estereótipo de que negros e macacos são, de alguma maneira, similares", afirma. "Essa associação não é a melhor. O excesso de humor pode afetar o resultado da campanha, esvaziar a discussão." Em um país onde a maioria dos negros ainda sofre com ofensas racistas cotidianamente, a ligação com o macaco continua sendo potencialmente ofensiva, avalia Motta. "O processo de ressignificação desse termo não é tão simples assim."
O rapper paulistano Emicida, negro, publicou em seu Twitter que não é um macaco. "As pessoas que são humilhadas no dia a dia por racistas que permanecem impunes também não." A ativista Camilla Magalhães Gomes, branca, escreveu no Facebook: "Não somos todas travecos. Não somos todos macacos. Não somos todos boiolas. Não somos todas vadias. Não posso pretender subverter o uso de um termo que nunca foi usado de forma violenta contra mim."


Athayde Motta, diretor Executivo do Fundo para Equidade Racial que apoia a causa da igualdade racial por meio de doações para organizações da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras. Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) (RJ) e mestre em Administração Pública e em Antropologia pela Universidade do Texas em Austin. Como pesquisador e consultor, teve experiências nos EUA, México, Suiça, Turquia, Timor Leste, e Quênia. Em 25 anos de carreira, ocupou as posições de pesquisador e gerente de projetos no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Oxfam Austrália, Fundação Ford e o Centro de Estudos Africanos e Afro-Americanos na Universidade do Texas em Austin (EUA). Antes de assumir sua atual posição no Fundo Baobá, Athayde foi gerente de programas de Oxfam GB em seu escritório no Brasil.
Para encerrar, fecho com um texto de Eldade Vieira publicado no facebook esta semana:
Você que come uma banana ou tira uma foto com uma ta achando legal. Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil o Racismo. Não, querido Neymar, não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.
Neymar é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, super acumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que nele se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: "Sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade!".
Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo. O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em favelas e subúrbios de todo o mundo.
Por Eldade Vieira, estudante de comunicação da Estácio.

A este homem é atribuído à lei de Lynch, que deu origem a palavra linchamento (assassinado de um indivíduo por uma multidão) prática comumente usada pelos Comitês de Vigilância que perseguiam e assassinavam negros no Sul dos EUA, e que mais tarde dariam lugar a entidade terrorista Ku Klux Klan. Este, porém, não é o único legado de Lynch. O seu discurso a fazendeiros norte-americanos gerou a famigerada “carta de William Lynch” e apesar de alguns historiadores de renome questionarem e até rejeitarem em muitos casos a autenticidade do documento, seus métodos e efeitos são visíveis hoje não somente entre as comunidades “negras” e guetos proletariados ao redor do mundo. Eu diria que entre os povos em geral.
A história diz que os escravos de Lynch amavam mais ao seu “mestre” do que uns aos outros. Se algum dos seus escravos tentasse fugir ou gerar alguma revolta, era traído por outros escravos. Esse aparente poder sobre seus escravos despertou o interesse e a curiosidade de muitos fazendeiros americanos e britânicos do território da Virgínia, América do Norte que passavam por constantes insurreições de escravos nas suas terras. Os fazendeiros americanos convidaram Lynch para ajuda-los a manter o controle sobre os seus escravos. Em meados de 1712, Willy Lynch fez a longa viagem do Caribe para a América do norte. Após a sua chegada em Virgínia, e após constatar em loco alguns dos problemas que os seus pares enfrentavam com os escravos raptados de África, Willy Lynch decidiu revelar o seu “segredo”; este discurso foi mais tarde compilado em forma de cartas, e distribuído a vários fazendeiros e colonos não só na América, como também em África, ilhas Canárias, e Ásia. Com a carta, Willy Lynch pretendia que seu método fosse divulgado e implementado por todos os proprietários de escravos da colónia de Virgínia e não só. Willy Lynch expõe o seu orgulho quando escreve na carta que o seu método podia deixar os escravos sob o seu domínio “por centenas, talvez milhares de anos”. Vamos à carta:
Senhores:
Eu saúdo vocês, aqui presentes nas beiras do Rio James, no ano de 1712 do nosso Senhor.
Primeiro, devo agradecer a vocês, senhores da colônia da Virgínia, por me trazerem aqui.Estou aqui para ajudá-los a resolver alguns dos seus problemas com escravos.O convite de vocês chegou até a mim, lá na minha modesta plantação nas Índias do Oeste onde experimentei alguns mais novos, e outros ainda velhos, métodos de controle de escravos.
A Antiga Roma nos invejaria se o meu programa fosse implementado. Assim que o nosso navio passou ao sul do Rio James, nome do nosso ilustre Rei, eu vi o suficiente para saber que o problema de vocês não é único. Enquanto Roma usava cordas e madeira para crucificar grande número de corpos humanos pelas velhas estradas, vocês aqui usam as árvores e cordas. Eu vi um corpo de um escravo morto balançando em um galho de árvore a algumas milhas daqui. Vocês não estão só perdendo estoques valiosos nesses enforcamentos, estão tendo também levantes, escravos fugindo, suas colheitas são deixadas no campo tempo demais para um lucro máximo, vocês sofrem incêndios ocasionais, seus animais são mortos.
Senhores! Vocês conhecem seus problemas; eu não estou aqui para enumerá-los, mas para ajudar a resolvê-los! Tenho comigo um método de controle de escravos negros. Eu garanto que se você implementar da maneira certa, controlará os escravos no mínimo durante 300 anos. Meu método é simples e todos os membros da família e empregados brancos podem usá-lo.
Eu seleciono um número de diferenças existentes entre os escravos; eu pego essas diferenças e as faço ficarem maiores, exagero-as. Então eu uso o medo, a desconfiança, a inveja, para controlá-los. Eu usei esse método na minha fazenda e funcionou; não somente lá, mas em todo o Sul. Pegue uma pequena e simples lista de diferenças e pense sobre elas. Na primeira linha da minha lista está “Idade”, mas isso só porque começa com a letra “A”. Na segunda linha coloquei “Cor” ou “Nuances”. Há ainda, “inteligência”, “tamanho”, “sexo”, “tamanho da plantação”, “status da plantação”, “atitude do dono”, “se mora no vale ou no morro”, “Leste ou Oeste”, “norte ou sul”, se tem “cabelo liso ou crespo”, se é “alto ou baixo”.
Agora que você tem uma lista de diferenças, eu darei umas instruções, mas antes, eu devo assegurar que a desconfiança é mais forte do que a confiança e que a inveja é mais forte do que a adulação, o respeito e a admiração. O escravo negro, após receber esse e doutrinamento ou lavagem cerebral, perpetuará ele mesmo, e desenvolverá esses sentimentos, que influenciarão seu comportamento durante centenas, até milhares de anos, sem que precisemos voltar a intervir. A sua submissão a nós e à nossa civilização será não somente total, mas também profunda e durável. Não se esqueçam q vocês devem colocar o velho negro contra o jovem negro. E o jovem negro contra o velho negro. Vocês devem jogar o negro de pele escura contra o de pele clara. E o de pele clara contra o de pele escura. O homem negro contra a mulher negra.É necessário que os escravos confiem e dependam de NÓS. Eles devem amar respeitar e confiar somente em nós.
Senhores, essas dicas são as chaves para controlá-los, usem-nas. Façam com que as suas esposas, filhos e empregados brancos também as utilizem. Nunca percam uma oportunidade. Meu plano é garantido e a boa coisa nisso é que se utilizado intensamente durante um ano, os escravos por eles mesmos acentuarão ainda mais essas oposições e nunca mais terão confiança em si mesmos, o que garantirá uma dominação quase eterna sobre eles. Obrigado, senhores.
William Lynch
O método de Lynch tornou-se popular quase que imediatamente. Em todas as colónias, o método de conquista que passou a ser adotado era o mesmo: dividir para dominar. Os escravos doutrinados com as ferramentas psicológicas de Lynch desenvolveram uma enfermidade mental que hoje é classificada de “síndrome de Willy Lynch”, ou mentalidade de escravo. Para ilustrar melhor esta prática utilizada mundialmente até os dias de hoje tomemos como exemplo duas nações africanas usadas como exemplo dessa experiência no site www.plataformagueto.wordpress.com, Ruanda e Angola.
Anaíse Risagina é uma refugiada do Ruanda (tutsi), de 27 anos de idade, atualmente residente na Holanda. Ela relatou resumidamente as causas por trás dos acontecimentos de Ruanda em 1994 (genocídio étnico perpetrado por extremistas hutus contra tutsis – as duas etnias que compõem o povo do país – e também contra hutus moderados, em Ruanda, entre 6 de abril e 4 de julho de 1994 onde cerca de 800 mil pessoas foram mortas):
” Sempre houve alguma tensão entre a maioria hutus e a minoria tutsis no Ruanda, mas antes do período colonial as divergências entre ambos os grupos não era coisa muito séria. Os dois grupos étnicos não tem muitas diferenças entre um e outro, fisicamente um Hutu pode ser confundido com um tutsi. Mas, alguns tutsis são realmente mais claros, mais altos, e alguns que habitam mais a norte têm uma aparência que se assemelha mais aos somalis ou aos etíopes. Mas falamos a mesma língua, gostamos da mesma comida, habitamos nas mesmas áreas e temos as mesmas tradições (…) mas quando os colonialistas belgas chegaram em 1916 eles é que viram diferenças entre os dois grupos étnicos. Para eles éramos entidades distintas e até produziram diferentes cartões de identidades para cada uma das etnias (…) classificavam as pessoas de acordo com a etnia (…) mas antes deles chegarem nós não víamos estas diferenças que eles viram”.Segundo Anaíse, “os belgas consideraram os tutsis como superiores aos hutus e os tutsis é claro que também ficaram a gostar (…) dizem que mediam os narizes dos hutus e tutsis e eles diziam que os tutsis tem o nariz mais fino (…) nos 20 anos seguintes os tutsis lhes davam melhores empregos e até melhores oportunidades para estudar do que os seus vizinhos hutus…”
Pelo relato de Anaíse, fica mais do que evidente o método de Willy Lynch: dividir para dominar foi o método utilizado pelos belgas. Em 1962, quando os belgas concederam independência á Ruanda, os hutus assumiram então o controle do poder. Logo os tutsis se tornaram os bodes expiatórios para todas as desgraças. Ambos os grupos estavam assim infectados pela “síndrome de Willy Lynch”, uma doença “terrível”, que segundo Lynch, “seria passada de geração a geração”. A desconfiança entre as duas etnias se agravou a ponto de explodir como vimos acontecer em 1994. Em Angola não foi diferente. Quando os colonialistas portugueses ocuparam o território, o método de Willy Lynch foi a ferramenta usada para a conquista psicológica do povo. Passaram a dividir os angolanos entre os assimilados e os indígenas. Os assimilados ganhavam este “status” depois de mostrarem que dominavam melhor a língua portuguesa, que estavam mais bem integrados na cultura e na sociedade portuguesa, e os que em certa medida tivessem tido maiores oportunidades educacionais. Os indígenas eram os analfabetos, os que por livre vontade ou que por falta de oportunidade não tiveram acesso ao estudo, ou a integração a cultura portuguesa; eram aqueles que usavam a língua regional como meio de comunicação e a cultura africana como modo de vida. Por darem mais vantagens aos assimilados, os colonialistas passavam uma mensagem clara aos indígenas: aquele grupo [os assimilados] era o predileto. Era o grupo “abençoado”, o grupo dos merecedores. Tinham acesso aos melhores empregos, podiam trabalhar diretamente até no gabinete com o “branco”. Compreensivelmente, toda esta situação criou o ódio dos indígenas pelos seus “irmãos assimilados”, pois estes [os indígenas] passaram a ver os seus irmãos como um entrave a conquista da independência. Ambos os grupos na verdade já estavam infectados pela “Síndrome de Willy Lynch”. Mas os colonialistas portugueses não ficaram por aí. Eles decidiram usar mesmo a fundo o método de Willy Lynch. Para criar ainda mais divisão entre as diferentes raças de angolanos, os “Lynchistas” incutiam na mentalidade dos mais claros o sentimento de “superioridade” em relação aos mais escuros. Estes, apenas pela cor da pele, tinham acesso mais fácil aos empregos e a escola em relação aos mais escuros. Estava assim criado o cenário para que a “Síndrome de Willy Lynch” se espalhasse entre o povo e a sua dose foi tão forte que pelos vistos, tem sido passada de “geração em geração”.
O mais interessante é notar que o método de Lynch ainda hoje é utilizado com uma abrangência maior e aplicado em conjunto com outros métodos por assim dizer, também eficazes, como o romano pão e circo. Os “morenos”, “mulatos”, “marrons bombom” versus os “fechadinhos”, “escurinhos”. Os negros versus os brancos. Flamenguistas versus vascaínos e São Paulinos versus Corinthianos. Moradores de uma região versus a outra.
Reflita: Quem sempre sai derrotado?
Os alienados saem.

O rapper brasiliense, Gog, ao final de sua música “Assassinos Sociais” cita a seguinte frase: “Enquanto lutarmos contra nós mesmos sempre sairemos derrotados”. É interessante refletir o quanto ele esta correto em sua afirmação e o quanto tal afirmação se fia na realidade! Não é preciso uma reflexão mais acirrada para perceber quem esta ganhando. Recente pesquisa constatou que 80% da riqueza mundial esta na mão das famílias mais ricas do mundo, que representam somente 15% do seleto grupo de milionários mundiais. Para melhorar o entendimento da questão, 85 pessoas ao redor do mundo são detentoras de metade da riqueza mundial. Metade. Quem esta ganhando o jogo?
Mas o que gera motivo de reflexão é a atitude de quem esta perdendo. Conversando com uma nova amiga, Sammi, vocalista da banda Consciência Tranquila, foi lembrada a famigerada “carta de Lynch”, que ajuda a explicar esse fenômeno maldito que corrói nossa sociedade.
Segundo alguns historiadores, o capitão William Lynch, foi um colonizador e proprietário de escravos. Natural da Inglaterra no sec.XVIII, viveu no Caribe (Caraíbas) e era conhecido por manter os seus escravos disciplinados e submissos.
O método de Lynch
por Edson de Souza

Em alusão ao dia 28 de Maio, Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, tive uma lembrança triste do filme Lágrimas do Sol, de 2003 dirigido por Antoine Fuqua e estrelado por Bruce Willis, Monica Bellucci e Eamonn Walker entre outros. O filme apresenta uma missão de resgate dos Navy Seals em meio a guerra civil das Nigéria, onde o Tenente A.K. Waters (Bruce Willis) comanda uma equipe enviada para resgatar a dra. Lena Fiore Kendricks (Monica Bellucci). Em meio a história eles se veem obrigados moralmente a transportar toda uma tribo Nigeriana e um influente membro dela.
A pergunta é: o que esse filme tem em comum com o Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna? Bem, a mulher esta no centro da criação, o casal na verdade, mas a mulher é o pilar que estrutura o indivíduo! No decorrer do filme, nos são apresentadas uma série de cenas emblemáticas onde são cometidas atrocidades pelo exército rebelde: a invasão a uma remota e pacifica aldeia onde as mulheres são estupradas, calcinadas e mutiladas com os seios arrancados para caso sobrevivam a guerra e procriarem, nunca poderem amamentar.

Historicamente em todas as sociedades a mulher sempre foi tratada um passo melhor que os animais de estimação, e hoje, apesar de sua emancipação, a visão sobre ela não mudou. A mulher ainda é vista como fonte de prazer, animal de serviço, serva que cumpre obrigações necessárias. Quando este tipo de visão repousa sobre o ser, suas necessidades básicas não contam como prioridades e nesse momento entra a preocupação de pessoas e órgãos internacionais pela saúde da mulher, e que tem neste dia o principal objetivo de chamar atenção da sociedade para o problema das mortes e ampliar o debate público.
É claro que encontramos facilmente no Brasil exemplos de abuso e desrespeito as normas de saúde, e que há um alto índice de mortalidade entre as mulheres, que são vítimas tanto pela desinformação quanto pela falta de vontade politica. Porém gostaria de tomar como exemplo as mulheres africanas e do oriente médio, que dentro do nosso modelo de sociedade atual, chamam atenção pelas barbáries sofridas, assim como as condições de higiene e cuidados escassos que são fornecidos.
Em 2012, com o objetivo de chamar atenção a cruel “circuncisão feminina”, foi realizada no Moderna Museet (museu de arte moderna de Estocolmo) uma festa (sim, uma festa) que contou com a presença da ministra da cultura sueca, Lena Adelsohn Liljeroth, onde um bolo em formato de uma mulher negra estereotipada como uma africana tribal (nua, como as vênus negras
colocadas em exposição no século XIX), com recheio vermelho sugerindo carne e sangue; era cortado a partir das genitais pela ministra. Em seu interior, escondido por debaixo da mesa, um modelo gritava sempre que um pedaço era tirado. A "obra" foi criada pelo artista Makode Linde, e o ato foi duramete criticado pessoas ligadas a entidades de direitos humanos, por autoridades e pelo movimento negro sueco.


As mulheres que participavam do evento riam do bolo e não se viam na mulher negra objetificada, levada ao extremo de ser oferecida como comida. A brincadeira foi de encontro às posições políticas da ministra, sempre marcadas por ações antirracismo, mas as organizações não levaram isso em conta e a criticaram. Depois do episódio, a ministra recebeu diversos pedidos para que renunciasse ao cargo, segundo o jornal sueco Dagens Nyheter. “A participação de Lena insulta quem sofre com racismo e agride as vítimas de mutilação genital", protestou Kitimbwa Sabuni, porta-voz da Associação Nacional Afro-Sueca.
Ao falar com a agência de notícias TT, Lena disse ter entendido a indignação, mas defendeu seu comportamento. "Eu sei que foi provocativo e mesmo que se tornou uma situação bizarra. Eu fui convidada para falar no Dia Mundial da Arte sobre a liberdade artística e o direito de provocar. E então me pediram para cortar o bolo", afirmou à época.
O modo como vejo esse caso transcende a questão do racismo, apesar de existente, a Suécia é um dos países com os maiores índices de igualdade na qualidade de vida para com gêneros e etnias. A minha análise vai de encontro ao colonialismo social, onde a mulher tem na apropriação do seu corpo - nesse caso uma mulher negra - uma força de trabalho e fonte de prazer sexual. Essa visão, encrunhada na sociedade e até entre pares do gênero em um país com indivíduos altamente instruídos, só nos sinaliza que a necessidade de uma conscientização dos objetivos do dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna estão longe de serem alcançados sem uma participação mais intensiva da sociedade na cobrança por seus direitos e na formação de uma frente que exija que os direitos de todas que ainda “não tem voz” sejam respeitados.
Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher

ÉTICA X CONSUMISMO na visão do marketing
Por Daniella Manhães


Após Assisti o filme Amor por Contrato (The Joneses, 2009) para uma dissertação dentro da matéria de marketing na faculdade, depois de algumas cenas fiz algumas considerações que me pareceram interessantes. Fica claro que o tema chave é o marketing invisível.
A sinopse do filme trata de uma família aparentemente perfeita. Tanto Steve (David Duchovny) e sua esposa Kate (Demi Moore) quanto seus filhos Mick (Ben Hollingsworth) e Jenn (Amber Heard) são bonitos, populares e confiantes. Possuem uma casa luxuosa e repleta de aparelhos de ponta. A situação provoca a inveja dos vizinhos, o que é exatamente o desejo que os Jones querem causar. Eles não formam uma família de fato, são na verdade, funcionários da empresa LifeImage. “Os Jones” são uma estratégia de marketing da empresa, que resolveu inserir famílias em mercados de luxo de forma a dar vida aos seus produtos. Ou seja, dar visibilidade de forma que as pessoas que convivam com estas famílias desejem ter estes produtos.
O que esta embutindo na ideia é que não se vende um produto, se vende um estilo de vida, uma forma de comportamento compulsivo com base em valores que são subjetivos, e ao

mesmo tempo, bem concretos.
Ter um produto significa ter supostos “valores morais e sociais” atrelados a ele. Sem dúvidas o filme aborda como caminho principal uma pretensa crítica ao consumismo desenfreado e a compra de marcas como símbolo de status e felicidade.
Com muita simpatia e um toque especial de charme, eles conquistam rapidamente a vizinhança, que começa a desejar tudo que eles promovem, pois eles tornam a “perfeição” palpável, para os vizinhos, projetando os bens de consumo, como meios para este fim.
Particularmente, não havia ouvido o termo “marketing invisível” antes, mas com certeza já passei por situações em que estava presente. Substituindo formas comuns de publicidade, já que o consumidor se sente sufocado por anúncios atirados de todos os lados. Por isso algumas marcas optam por esse tipo de propaganda, que não parece propaganda de verdade. Além de tudo, o marketing invisível tem um apelo mais humano para promover um certo serviço ou produto: as pessoas costumam confiar em pessoas, mais do que em cenas forçadas ou fotos posadas. Esse tipo de promoção é diferente do merchandising, que é mais explícito e objetivo.
Existem dois lados da moeda nesta ferramenta do marketing. Pelo ponto de vista do consumidor, essa atitude pode ser julgada como falta de ética. O consumidor neste caso esta sendo “enganado” e/ou “induzido” pelos vendedores - no filme, os vizinhos - a comprar e obter algo que eles não precisam, sob o risco de se afundarem em dívidas, e terem um final trágico, como mostra o filme.
Há também o ponto de vista do profissional de vendas, que é uma maneira válida e eficaz, já que desperta no consumidor a “falsa necessidade” de obter um produto ou serviço, o que é exatamente o objetivo deste profissional. E mesmo “fantasiando” uma vida perfeita, onde as pessoas estão apenas atuando, o produto pode sim, superar as expectativas do consumidor, trazendo autoestima e grande contentamento para suas vidas, quando seu lado financeiro lhe permite.
Daniela Manhães é estudante de administração na faculdade Estácio de Sá


É ano novo de 2008 e estamos na estação do metrô de Oakland, Califórnia. Uma briga! Banal, jovens bêbados discutindo. É noite de revellion e muita gente embriagada esta rodando pela cidade, nada mais normal do que discussões e brigas hoje. A polícia do metrô invadiu o vagão... intervenção com violência. Os jovens considerados suspeitos são separados e colocados sentados no chão, isolados uns dos outros. Uma grande quantidade de pessoas no trem e na plataforma sacam seus celulares e começam a filmar. Um dos rapazes detidos é alvejado com diversos tiros pelas costas.
Imediatamente as imagens passam a circular em todas mídias sociais.
Parece um clichê. Renato Russo e sua Legião já cantavam nos anos 80 "A violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais..."! O pensador e ativista Marcelo Yuka costuma dizer que “o gueto é a maior nação do mundo”. Não importa em que país você esteja, em que lugar esteja, as situações de injustiça social se repetem. E em algumas comunidades basta ser negro para ser suspeito. De quê?
De tudo de ruim que estiver acontecendo.

Essa é uma história crível não somente por ser real, ela já traz em si uma atmosfera de normalismo por mais dramática que seja, ela não é estranha aos nossos sentidos. Já a vimos antes, diversas vezes. O brasileiro Jean Charles foi morto após perseguição policial na Inglaterra depois de ser confundido com terrorista. O pedreiro Amarildo foi assassinado e teve seu corpo desaparecido após abordagem policial na favela da Rocinha. Eu já vivi situações assim com meus amigos, e graças ao bom Deus estamos todos aqui,em nossas hoje raras reuniões nos rimos desses momentos de tensão.
Mas não há risos aqui.
Oscar Grant III era um jovem de 22 anos, pai de uma criança a qual não tinha condições de sustentar por ter perdido o emprego, e seu caso só foi a julgamento porque as mídias sociais pressionaram a mídia convencional e esta as autoridades. Rapaz negro e pobre morto no metrô? Devia estar roubando alguém, devia ser bandido... só que não.
Em 2012 o cineasta estreante Ryan Coogler trouxe o filme Frutvale Station – A Última Parada, e antes que você reclame dos spoilers, o filme é baseado na história real de Oscar Grant e nesse caso é como reclamar de alguém que lhe conta que Jesus é crucificado no fim da via crucis, o fato é de domínio púlblico. Mas você ainda pode parar de ler aqui, ver o filme e retomar a leitura.
Oscar no filme não é santificado. Ele teve um passado no tráfico – chegou a ser preso – e acaba de perder o emprego por seus atrasos no serviço. Mas é um cara afável, responsável. Carinhoso com a mãe, a avó e a filha. É um cara tentando se reerguer, e o mundo se abate sobre ele. Fruitvale Station - A Última Parada é um filme assim, afável, familiar. Em boa parte dos países do mundo ocidental é possível encontrar histórias parecidas com a vivida por Oscar Grant, Um dos grandes méritos do filme é mostrar a vida como ela é. Tem conquistas e mazelas, ressaltando que nenhum ser humano é completamente bom ou ruim. Ou seja, sem apelar para os tradicionais estereótipos que tantas vezes tornam mais fácil contar uma história.
Mas tratar de estereótipos quando o individuo é pobre e negro é um carma do qual não é possível fugir, na maioria das vezes eles seguem a vida cotidiana. E neste ponto que Oscar Grant se torna um cidadão do mundo. Em meio às 24 horas acompanhadas em cena, as situações pelas quais passa não são características específicas dos Estados Unidos. O Brasil, esse lindo país tropical que tenta esconder o racismo embaixo do tapete, registra as mesmas mazelas dia após dia.
Fruitvale Station é um filme necessário. Sua câmera nervosa e com ar documentarista te avisa que aquilo não vai acabar bem, a qualquer hora vai dar. Mesmo sabendo o que vai dar, o filme sustenta o ar de suspense e te prende ao protagonista e a forma como tudo se deu. E quando chega o desfecho por mais que anunciado no início do filme, vem de forma brutal, inesperada e revoltante. Fruitvale Station é um filme para sse refletir e discutir. Aqui o que importa é a constatação (e conscientização) do mundo em que vivemos.
Com maestria na direção, cuidado para não parecer melodramático e gratuito, Fruitvale nos mostra a frieza e crueldade de uma polícia despreparada que vê na desumanidade e violência saídas de contenção social e nos apresenta um personagem comum, um rapaz comum como na música dos Racionais que deseja mudar, que quer se ajustar em uma vida nos eixos para retomar sua credibilidade com a família e poder ser um pai presente para a pequena filha, alguém como eu e você, sujeito a erros e falhas, acertos e qualidades.
Um filme belo e doloroso como a vida.
A última parada!
por Edson de Souza




MANO BROWN: Na minha casa não tinha aparelho de som nessa fase, e eu estava no colégio interno. Quando voltei pra casa, minha mãe tinha um dois em um, era AM e toca-discos, pequenininho. Faz tempo isso aí… nos anos 70 a gente não tinha quase nada.
CULT: Com quantos anos você voltou pra casa?
MANO BROWN: Com oito e meio, quase nove.
CULT: E que extrato tira desse período de colégio interno?
MANO BROWN: Eu tenho TOC de arrumação até hoje [risos]. Se o tênis estiver torto, tenho que arrumar. A roupa, a toalha, a roupa de cama, tem que estar tudo dobrado. É herança de lá isso aí.
CULT: Por que o Pedro Paulo decidiu virar rapper?
MANO BROWN: Não foi bem uma decisão, começou como uma brincadeira. Eu estava sem fazer nada, desempregado e tal, e não tinha nada que chamasse a atenção de ninguém também. Quando começou essa onda de rap, nos bailes, a gente começou a ouvir falar nas rádios, e ouvi falar que estava tendo um concurso, mas não participei. Só fui participar do terceiro concurso, quando fiz minha primeira letra. Era uma grande brincadeira, coisa de festa, de moleque. Uma coisa de você poder subir no palco e chamar a atenção das minas, no máximo; não tinha uma pretensão de “ah, vou fazer a revolução”. Com dezessete pra dezoito anos você não pensa nessas coisas, não naquela época.
CULT: Quanto tempo depois surgiu o Mano Brown pra valer?
MANO BROWN: Não muito depois… Eu também não tinha muito a perder, e nem tinha pra onde ir, certo? Com a terceira música que fiz ganhei um concurso no salão, e despertou uma certa cobiça a partir daí, de pensar um pouco maior. Ganhar o concurso era pouca coisa mas também não era nada. Depois a gente estava na São Bento [estação do metrô de São Paulo que foi berço do hip hop brasileiro no final dos anos 1980] e fomos convidado pra entrar no lugar de um cara que tinha faltado na gravação de uma fita demo. Eu cantava sempre no latão da São Bento, comecei a fazer fama ali, aí o cara da demo chegou perguntando: “Quem são os caras do Capão que rimam pra caralho?”. Aí apontaram pra mim e foi assim que aconteceu. A gente foi num apartamento no Edifício Copan e chegando lá estavam o KL Jay, o Edi Rock, Os Gêmeos, que eram uma dupla de rap [famosa dupla de grafiteiros paulistanos], e a gente gravou aquela demo, que não foi pra frente. Na época eu cantava com o Ice Blue, e o Edi Rock e o KL Jay eram uma outra dupla.
CULT: E sua mãe? No começo ela gostava?
MANO BROWN: Escondi da minha mãe um bom tempo. Aí passou um tempão, apareci em casa com um disco gravado e mostrei pra ela, que nem sabia que eu cantava.
CULT: Você já tinha parado de estudar nessa época?
MANO BROWN: Já tinha. Fazia tempo.
CULT: Então não é que você estava trocando uma coisa pela outra…
MANO BROWN: É. Eu podia estar fazendo coisa errada, né? Daí eu fui gravar música. Quando minha mãe viu minha cara no disco, ela não acreditou.
CULT: Você achava que o Racionais chegaria onde está ou foi muito além?
MANO BROWN: Foi além, mas eu sabia que ia ser foda. Eu sabia como ia cantar cada ideia, tal batida, como ia parecer o som, só não sabia que ia ficar do tamanho que ficou. Eu sabia que quando a gente chegasse com aquela ideia, seríamos os primeiros, e que quando as pessoas parassem pra ouvir, não iam largar mais. E foi assim, mas não que nem é hoje, que realmente às vezes me assusta. Não esperava mesmo… mas lá atrás, em 90, sabia que não tinha ninguém como nós no Brasil. A gente não era nada mas a gente era diferente de todo mundo. Eu sabia que se levasse a sério, se desse continuidade, poderia ser alguma coisa, tinha essa noção.
CULT: E quanto tempo depois começou a ganhar dinheiro?
MANO BROWN: Eu vi dinheiro mesmo com “Homem na estrada”. Antes disso era couro de rato, trocando moedas. Os carros quebravam pra caralho, tudo o que ganhava, gastava. E o Brasil era difícil também. A gravadora era pequena, a gente vivia com problema financeiro sério, que nem o Santos [Futebol Clube, time do coração de Brown]. Quando lançamos “Homem na estrada” e “Fim de semana no parque” [do disco Raio-X Brasil, de 1993] que realmente virou outra coisa. Foi quando a gente mudou os temas, parei de falar só do movimento negro pra falar mais da periferia. Aí já estava perto do que calculei. Não onde está hoje, mas “Homem na estrada” estava perto do que eu calculei naquela época. Eu morava num barraquinho aqui nessa rua, numa casinha de um cômodo e meio. Um dia saí na rua e estava tocando “Fim de semana no parque” em três casas diferentes. Minha música… na minha rua… Alguma coisa estava errada, entendeu, ou estava começando a ficar certa. Ali cresceu.
CULT: E como vocês estão planejando comemorar os vinte e cinco anos do Racionais?
MANO BROWN: Eu não pensava em comemorar nada, mas também sou obrigado a reconhecer que vinte e cinco anos são vinte e cinco anos; vinte e seis já é outra fita, não é a mesma coisa. Então vamos comemorar, tá bom.
CULT: O disco novo do Racionais sai este ano ainda?
MANO BROWN: Eu tenho muita música fora do Racionais, e talvez tenha que apelar para esse arquivo para colocar no disco do grupo. Tem bastante música para o meu disco solo, algumas servem para o Racionais, mas vai contrariar muito a lógica.
CULT: Por quê? Seu disco solo está indo por outra linha?
MANO BROWN: Não quero ficar chato, morou?
CULT: Tem previsão de lançamento?
MANO BROWN: O Racionais está na frente, tem prioridade no momento. E o Racionais exige um pouco mais, vai precisar dar uma atenção.
CULT: Os outros integrantes do grupo também têm seus projetos solos. É bom pro Racionais em que sentido?
MANO BROWN: Fortalece o individual, fortalece a pessoa. E grupo é uma parada ótima para você esconder falhas também. Todo mundo é capaz de se sustentar fora do grupo. É bom isso, essa independência dos quatro.
CULT: E como está o esquema de produção hoje? Está mais fácil trabalhar, produzir, gravar, fazer show desde a abertura da Boogie Naipe Produções [escritório próprio criado em 2009 para cuidar da produção do grupo]?
MANO BROWN: Está mais organizado. Mais fácil não, a luta é a mesma, mas com mais organização você consegue enfrentar os adversários mais fortes. Os resultados são melhores. Por exemplo, a gente fez duas festas no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, com cinco mil pessoas cada. Mas a gente podia se foder também, podia não ir ninguém, mil pessoas só, fracasso. E fracassar no Rio decreta o fim, porque é dali para frente. Igual a São Paulo. São cidades formadoras de opinião, e só com organização você consegue fazer isso acontecer. O Racionais foi vítima de muita desorganização ao longo dos anos.
CULT: A ideia de centralizar é justamente pra não passar nervoso na mão dos outros?
MANO BROWN: Para organizar, na verdade. É um trabalho, eu gostaria que fosse aquela liberdade do começo, mas na verdade os tempos mudaram. Tem muita gente que espera por mim e espera de mim.
CULT: Isso te cansa? Às vezes queria ser só o Pedro Paulo?
MANO BROWN: Queria te responder com sinceridade, deixa eu pensar [pausa]. Às vezes sim, mas o Pedro Paulo talvez não estivesse vivo se não fosse o rap, então também não posso ter essa ingratidão. O Pedro Paulo está vivo até hoje por causa de rap. Quando eu conheci o rap, o Pedro Paulo estava fadado a morrer. E na verdade o Pedro Paulo nunca deixou de existir, mas ele poderia ter morrido em 1988.
CULT: No sentido de “era o rap ou o crime”?
MANO BROWN: É, exatamente. Não tinha para onde correr. O crime já estava virando uma coisa normal – meus amigos faziam parte daquilo. E, mano, se você vê os amigos em quem confia no barato, você acaba entrando. Se a primeira dá certo, você quer ir na segunda e aí você vai ficando frio, desacreditado, essa é a circunstância.
CULT: Você está mais confortável na posição de referência pra molecada da periferia…
MANO BROWN: Tem outras referências. Eu posso ser uma, mas tem muitas outras. Mais de cem, mil.
CULT: Isso te incomodava antes. Está mais tranquilo hoje em dia?
MANO BROWN: Não é que me incomodava, eu não gosto é da cegueira. Você tem que estar com a visão 3D, entendeu? Todas aquelas ideias do começo dos anos 1990 foram muito importantes, elas são importantes, mas dali pra frente é cada um com seus problemas. Não pode ter esse negócio de grupo de rap ser ONG. A responsabilidade é de todos. Cada um tem que ter responsabilidade sobre si, então se a gente ficar nessa ideia de paternalismo de novo, “ah, vem que eu te ajudo, te dou cesta básica, te dou leite…”, isso aí é o que já se faz. Isso está errado, entendeu? Tira as pessoas da condição de igualdade… A condição de igual, de se sentir igual, é que traz liberdade às pessoas. Mesmo que esteja duro, não posso me sentir menos do que você porque me deu um quilo de açúcar, que merda… Não tinha que estar ninguém dando açúcar pra ninguém. É o mínimo que tinha que ter.
CULT: Seu processo de composição mudou nesses vinte e cinco anos?
MANO BROWN: Eu componho aqui, com vinte caras fumando maconha e conversando junto. Já compus muita música também na cama da minha casa, sozinho. Componho de qualquer forma.
CULT: Mesmo com bagunça?
MANO BROWN: Bagunça vira música para mim, vira letra.
CULT: Você está satisfeito com as coisas que conquistou até agora?
MANO BROWN: Eu não sei o que eu conquistei. Eu sei o que eu fiz, eu estou bem, não me arrependo de nada não.
E no profissional?
MANO BROWN: No profissional dava para ter crescido mais, dado um passo além, mas era tudo muito atrasado, muito difícil aqui no Brasil. Era tudo muito turvo. Não tinha uma grande proposta que me confortasse. Tudo o que foi me oferecido ao longo da minha carreira foi perigoso. Não vinha dinheiro de uma fonte boa, tudo de fonte que eu não queria acumular.
CULT: Agora seria uma boa hora para…
MANO BROWN: Ó parceiro, vou te falar, hoje em dia já não penso nisso. Penso que eu preciso trabalhar, certo? Trabalhando eu como, bebo, durmo, visto e já era. Eu não penso na carga, no símbolo, no status de ficar rico. Mas sempre existiu essa possibilidade, e se eu não estou é porque não dei a atenção devida. Houve condições, mas não era aquele dinheiro que me orgulharia de ter ganhado. Eu prefiro vender sapatos, vender calça jeans, vender pão.
CULT: Trabalhar com coisas mais palpáveis?
MANO BROWN: Coisas que não sejam filosóficas, nem ideológicas.
CULT: Viver de arte é sofrido?
MANO BROWN: Não deveria ser. Por exemplo, se eu fosse um sambista, viveria de arte sem muita dor de cabeça, arte pela arte, e é muito respeitável por sinal, tá ligado? Como é o Fundo de Quintal, o Zeca [Pagodinho], o Revelação. São muito respeitáveis e não vivem nessa rota de colisão com filosofia. Eles vivem filosofias próprias, não deixaram que ninguém se apoderasse deles. Eles não quiseram ser a luz da humanidade. Houve ali um momento que foi colocado que o rap que tinha que ser a luz da quebrada, a luz da periferia, a luz dos caras. Uma coisa que veio de fora para dentro, que não foi denominada por nós. A mídia falou, a imprensa falou, os fãs falaram. Eu sempre gostei mais de ser o bandido do que ser o líder nas minhas músicas. Mais como um ombro do que como um mentor. Nada de ser mentor, sempre quis ser ombro, braço. Sempre quis ser braço.
Ícone. Referência. Ídolo... essa não é a pretensão de Brown, que cada vez abre mais espaço para o Pedro Paulo e nos deixa conhecer a sensibilidade e o lado humano do líder do Racionais. Nesta entrevista veiculada pelo site CULT () temos a oportunidade de saber mais um pouquinho dessa figura tão difícil que é o brown, leia.
CULT: Qual sua memória musical mais antiga, o primeiro som que lembra que bateu forte quando era moleque?
MANO BROWN: Acho que foi aquele som que eu fiz “Vida Loka − Parte 1” [musica do disco Nada como um dia após o outro dia, de 2002] em cima, do Liverpool Express, “You are my love”. É um som que lembro que gostei há bastante tempo.
CULT: Que idade você tinha?
MANO BROWN: Tinha uns seis anos, estava no colégio interno, por isso que eu lembrei.
CULT: E que tipo de som rolava na sua casa? Era uma casa musical?


*Para ler a entrevista completa, acesse o site:Revista Cult http://revistacult.uol.com.br/home/ ou no site: www.geledes.org.br

Albinismo, do latim "albus", que significa branco, é uma condição genética hereditária e caracterizada pela ausência de melanina na pele, olhos e cabelo, assim, pode afetar todas as raças, sem distinção. Melanina é a substância que dá cor à pele.
A pura ignorância, a superstição e o grande preconceito social, tornaram os albinos africanos pessoas marginalizadas e prisioneiras dos que acreditam que certas partes do seu corpo trazem boa sorte. Por isso, albinos africanos são amputados e/ou mortos por gangues para terem partes do corpo transformadas em amuletos.
Logo após o nascimento de uma criança albina, elas são rejeitadas. Geralmente por seus pais que os abandonam e as suas mães, que são responsabilizadas pela condição fragilizada da criança.
Albinos têm dificuldade na escola para ver o quadro-negro. Professores e colegas os discriminam e insultam. Encontrar trabalho é difícil, eles são marginalizados. Sofrem problemas de visão e o sol africano inclemente lhes causa sofrimento, causando ulcerações e queimaduras. Muitos jovens morrem de câncer de pele. Não é fácil ser albino na maioria dos países africanos, muitos dos quais, particularmente nas zonas rurais, explicam a sua falta de pigmentação por uma maldição que paira sobre a família.
Falta de condições financeiras fazem com que os albinos africanos não usem óculos, apesar de terem problema na vista.

Albinos Africanos


A população albina na na África é maior do que em qualquer outro lugar do mundo. Por serem tão numerosos, os primeiros colonos portugueses os classificaram como uma raça à parte. Na Europa a taxa de albinismo é um para cada 17.000 pessoas, na África chega a 2.000 ou 5.000, dependendo do país. Uma a cada 70 pessoas é portador do gene. Se o seu parceiro também é um portador, sua prole terá maior chance de ser albino.
Albinos são "peças cobiçadas” pelas bruxas. As pernas, braços, pele, língua, e cabelos de albinos valem milhares de dólares. Os curandeiros os utilizam para "curar doenças" e para prometer fortuna. Uma das crenças africanas mais arraigadas garante que se você beber o sangue de um albino vai ganhar muito dinheiro.
O perverso ritual inclui a queima de barracos das vítimas. Os assassinos recebem, em troca, uma ou duas vacas, que lhes são dadas pelos líderes da comunidade pelo seu bom trabalho prestado.
Uma das vítimas dessa perversidade é Bibiana. Ela foi amputada à noite por pessoas que acreditam que partes do seu corpo albino, usado em conjunto com outros medicamentos tradicionais, podem ajudá-los a ficar ricos em mineração e nas indústrias pesqueiras. As pessoas que atacaram e amputaram a perna de Bibiana foram presas.



Para proteger os albinos, organizações internacionais abriram acampamentos especiais, onde os negros albinos podem viver com maior segurança.
Os albinos que conseguem sobreviver neste ambiente tão hostil, para continuarem vivendo, têm que trabalhar sob o escaldante sol africano, ficando irremediavelmente doentes de câncer de pele. A média anual estimada é de cerca de uma centena de assassinatos, e até agora as autoridades acreditam que, desde os anos oitentas, foram mortos mais de três mil albinos em crimes cometidos com lanças e facões.
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O governo da Tanzânia proibiu o curanderismo, para impedir a caça dos albinos. Mas a questão é, o que acontece no resto da África? Algumas ONGs estão a trabalhar muito para chamar a atenção para estas redes criminosas.
Essa é a realidade dos albinos na Àfrica. E agora que você a conhece, ajude-me a fazer com que outras pessoas também conheçam
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Thando Hopa

Modelo Sul-Africano considerada o "novo rosto da moda" e que vem desafiando o preconceito com sua beleza, ainda que como uma mulher com albinismo.
O fotógrafo Justin Dingwall, sediado em Joanesburgo captou a sua essência em uma sessão de fotos elegante de títulos ALBUS ("branco", em latim), alguns dos quais em breve irá aparecer na Forbes Magazine.
Ele explica: Beleza é encontrada em todas as formas, tamanhos e cores. Ela também pode ser incolor, que é o ponto a ser provado e celebrado através de uma onda de modelos com albinismo.
Thando Hopa é procuradora legal em tempo integral e agora modelo. Ela está usando sua fama recém-encontrada para negar o tabu em torno do albinismo.










Apesar de extrema e alarmante a situação dos albinos em muitos países - incluíndo o Brasil - pouco difere dos albinos africanos.
Ainda são párias na sociedade, dificilmente conseguem bons empregos devido a sua aparência e enfrentam dificuldades similares em salas de aula ou na busca por tratamento adequado.
Ajude a divulgar as informações que você recebeu aqui e seja um agente de propagação para derrubada do preconceito contra albinos.
Todos são iguais perante Deus!


a epidemia que desmascara a hipocrisia
No dia 8 de agosto de 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) enfim declarou a epidemia de ebola no oeste da África uma emergência pública sanitária internacional.
Mais de um mês após o início do surto, que há anos ceifa centenas de vidas em África, e que neste tempo ressurgiu com força total em uma severidade sem limites, o comitê de urgência da OMS, que se reúne em Genebra, “considerou de forma unânime que foram dadas as condições" para declarar "uma emergência de saúde pública de alcance mundial", indicou em um comunicado.
A partir de então, os países afetados pela epidemia tiveram de adotar, entre outras medidas, exames para detectar o vírus em aeroportos, portos e postos de fronteira, em todas as pessoas que apresentaram ou apresentarem febre e outros sintomas semelhantes aos do ebola.
A OMS pediu à comunidade internacional que ajude de maneira urgente, aos países afetados pelo ebola.
“Este é um claro chamamento à solidariedade internacional com os países afetados que não têm capacidade para enfrentar um surto deste tamanho e desta complexidade”, ressaltou em uma coletiva de imprensa a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.
E mais uma vez os olhares se voltam para o continente africano. Alguns de misericórdia, outros de pena, uns de pavor, outros de ódio e os piores, de crítica disfarçados de preocupação. Como se a culpa fosse dos que lá estão. E estão sob que condições?
Organizações independentes de ajuda internacional vêm denunciando que nos países mais afetados como Libéria, Serra Leoa e Guiné – agora também a Nigéria - as autoridades locais tem cerceado povoados de regiões afetadas com grande truculência e uso de força excessiva . Na Libéria, por exemplo, soldados atiram contra a população isolada em uma favela da Morávia, afim de que estes não escapem do local levando infecção a outros pontos. A sobrevivência destes depende de medicamentos experimentais que dependem do interesse de grandes indústrias farmacêuticas para chegar a eles. Não há o interesse dessas indústrias em auxiliar países pobres e que não lhes darão retorno lucrativo, países miseráveis porque foram saqueados por países ricos. Enquanto isso, os doentes e a população ficam confinados e segregados nos chamados cordões sanitários, áreas que dariam inveja aos campos de concentração nazista dada a sua precariedade de condição de vida. Linch ficaria orgulhoso...



O professor belga Peter Piot, um dos responsáveis pela descoberta do vírus em 1976, afirmou nesta terça-feira (26) que estão reunidas as condições para que a epidemia acelere e lamentou a "extraordinária lentidão" da resposta da OMS.
"Nunca havia acontecido uma epidemia de tal envergadura. Há seis meses assistimos ao que se poderia chamar de 'tempestade perfeita', porque estão reunidas todas as condições para que acelere", afirmou em uma entrevista ao jornal francês "Libération".
A epidemia de febre hemorrágica ebola, que já provocou mais de 1.500 mortos, "explode em países onde os serviços de saúde não funcionam, devastados por décadas de guerra. Além disso, a população desconfia radicalmente das autoridades", completa o especialista.
"É necessário restabelecer a confiança. Em uma epidemia como a do ebola, não é possível fazer nada sem confiança".
Nestes tempos em que a rede social faz o papel da mídia propagadora de notícias mal contadas (ou contadas pela metade, dependendo do interesse de quem as conta), postagens sem fundamentos e disseminação de desinformação, o internauta exerce o poder dado pela interatividade de júri, juiz e carrasco, e formador de opinião. Não existe mais a danosa distância que nos era imposta nos tempos em que a TV, rádio e jornal eram os únicos e reinantes meios de comunicação social. E essa cultura de independência sem restrições ou responsabilidades que esta sendo criada, gera um dos piores tipos humanos existentes: o sábio de si mesmo com sentimento de autopreservação do próprio umbigo.
Esse tipo humano, que é mais comum do que nos aparenta e que por vezes reside até neste que vos escreve, é o ser mais abjeto que existe. Ele odeia e execra tudo que é contrário aos seus gostos e quer destruir o que lhe causa inveja. Anseia por ser ouvido, detesta ouvir, a não ser que sejam palavras elogiosas e considerações pareadas com as suas. É egoísta, não leva em conta semelhantes a não ser que lhe ofereça alguma vantagem. As vantagens dos outros, mesmo que não lhe afetem ou causem qualquer dano, são como uma ferida aberta em sua honra, e tem de ser anuladas.


Engraçado é constatar que sempre que algo relevante ao negro, seja africano, americano ou europeu é trazido a baila, esses tipos se enfurecem, entram em ebulição, explodem em comentários de ataque, defesa, pejorativos e elogiosos. Porém a preocupação nunca é o outro, não importa de que lado estejam, estão sempre preocupados com a própria pontuação.
Recentemente no programa da Fátima Bernardes, uma internauta demonstrou preocupação com os imigrantes angolanos na cidade devido ao surto da doença em solo africano... sofremos de um surto de falta de inteligência também? Ou é somente o preconceito falando?
A África Ocidental enfrenta o maior surto do vírus ebola já registrado desde a descoberta da doença, em 1976. Segundo a OMS, trata-se da maior epidemia de febre hemorrágica em termos de pessoas afetadas, número de mortos e extensão geográfica. O último balanço do organização, divulgado em 6 de agosto, informa que já são 932 mortos e mais de 1.700 casos da doença registrados.
O surto atual começou na República de Guiné em março deste ano, e se espalhou para os países vizinhos Serra Leoa, Libéria e, mais recentemente, Nigéria.
A diretora-geral da OMS disse que os países afetados "não podem fazer frente à epidemia por si mesmos", e instou "a comunidade internacional a dar o apoio necessário". A OMS disse estar preparada para que o surto permaneça em alto nível pelos próximos meses, e afirmou que é provável que a situação piore antes de melhorar.


O que é “E se o Obama fosse africano e outras internvenções”?
Mia Couto - É o segundo livro que eu faço relacionado à ideia de não perder alguma coisa que eu fui construindo ao longo do tempo. São coisas não-datadas, fora da literatura, ensaios, intervenções que eu faço. Como cidadão, sinto obrigação de estar presente, de dizer o que penso. Moçambique é um país muito recente. Mesmo que seja uma ilusão, há essa ideia de que podemos contar, de que podemos ser ouvidos e de que isso vale a pena.
Qual o texto mais importante ou emocionante?
Couto - Cada um tem um aspecto, um propósito diferente. O primeiro, o “Guardador de rios”, é uma história real e, para mim, simbólica. É uma história que vale a pena lembrar. É sobre um programa que foi feito no Gurué, na província da Zambézia (norte do país). Um homem foi ensinado a medir o nível do rio com as horas e os metros. Ele fazia isso todos os dias, registrando em um formulário. Depois veio a guerra, esse programa desapareceu, e o homem perdeu contato com o resto do mundo. Quando, 16 anos depois, foram visitar aquele lugar, encontraram o homem trabalhando. Ele já não tinha formulário, claro. Escrevia com um pedaço de carvão em uma grande parede. E essa história para mim é muito bonita. Sobre alguém que não desistiu da sua missão. É uma lição para mim. Como se fosse um contrato que ele tivesse com o próprio rio. É isso que eu quero fazer: converter o mundo em uma página e escrever nela como se fosse uma lição, nem que seja só para mim!
Como é o próximo livro?
Couto - É um romance que tem dois títulos diferentes. Em Angola e Portugal se chama “JesusAlém” e no Brasil, “Antes de nascer o mundo”, porque a editora preferiu esse título. É uma história sobre um pai que, aparentemente, enlouquece e leva a sua família para um lugar remoto. E anuncia à família que o mundo terminou, que são os últimos sobreviventes, que não há mais humanidade. Esses meninos crescem com essa ideia de que são os últimos habitantes do mundo. Depois essa mentira é desconstruída pela chegada de uma mulher e aí começa uma história de conflito com o mundo.
Você aborda, especialmente, temas sociais. Qual a importância em fazer uma ficção ou uma ficção associada aos problemas sociais?
Couto - Acho que não existe simplesmente ficção. Todo texto sempre tem essa relação de fronteira mal desenhada entre o que é real e o que é ficcional. O escritor brinca com isso, e ele próprio não sabe o que é. Fica confuso, mas, pelo menos, é verdadeiro nessa declaração de que não está dizendo algo inteiramente verdadeiro. Estou convidando as pessoas a brincarem nesse terreiro em que não se sabe o que é real, o que é utópico, o que é sonho. No fundo, complicamos um assunto que é muito simples. Eu acompanhei meus filhos, agora meus netos e vejo essa necessidade quase biológica de construir histórias. A necessidade de encantamento é uma coisa que me parece da nossa própria espécie. Por isso, a criança fica em êxtase quando ouve uma história. O que o escritor faz, no fundo, é eternizar essa relação que mexe com o nosso próprio lado criança.
Eternizar essa relação é como alimentar essa curiosidade, esse fascínio. E o que fascina você?
Couto - Fascina-me contrariar a ideia de que o mundo já está feito, de que o mundo serve só para nós nos servimos dele, que ele serve apenas para ser consumido.
Como o cidadão deve se fazer presente na literatura?
Couto - Isso tem que ultrapassar a literatura. Mesmo que eu não fosse escritor, sentiria a obrigação de fazer coisas, dizer coisas, de contribuir. Não sou dos que pensam que basta lamentar, que basta criticar tudo ao redor em um café da esquina. Eu acho que temos que estar presentes.
Como a literatura pode ajudar a reerguer a cultura, especialmente em uma nação pós-guerra que teve tantos bens não-materias dilacerados?
Couto - Não sou otimista em relação à importância da literatura no mundo. As pessoas sabem que os livros são pouco lidos, que são para um pequeno grupo. Portanto, é mais inteligente deixar que essa mensagem circule sem obstáculos do que criar ao redor dos escritores uma importância que, afinal, eles não teriam de outra maneira. Então, acho que existe a liberdade para publicar o que quisermos. Do ponto de vista literário, claro.
Moçambique e África são temas presentes em suas obras. Você acha que é preciso expandir a realidade africana para o mundo?
Couto - Os que pensam, na verdade, não pensam. Para os que pensam a África, a ideia já está formada. Acham que já sabem. Que seja por uma romantização de esquerda ou direita. A África que existe na cabeça da maioria das pessoas é folclorizada, idealizada. É uma África que não existe. E os próprios africanos assumiram essa imagem. Acredita-se que a África é assim não por questões históricas, mas por uma espécie de genética do continente.
Os grandes autores estão concentrados na Europa e nos Estados Unidos. Por que existem poucos escritores africanos reconhecidos?
Couto - Porque quem diz sobre o tamanho dos escritores africanos, não são os africanos. Quem classifica, quem categoriza, está fora da África. Os grandes prêmios, as grandes editoras estão fora da África. Aí precisam se subordinar a critérios que não são os africanos, se é que existe alguma coisa chamada critério africano. Também não sei. Os grandes centros da cultura africana são aqueles que podem avaliar sobre o que é africano e o que não é africano. Tenho amigos escritores africanos que, quando abrem jornais americanos e europeus, se assustam com as críticas de que o livro não é autenticamente africano. Eles questionam a autenticidade. O que é isso, afinal? Ninguém sabe! Eu acho que ainda continua sendo uma certa alienação de critérios.
O país vem crescendo bastante nos últimos anos. Como está Moçambique hoje?
Couto - Se você olhar para o padrão arquitetônico, Moçambique é uma cidade grande e moderna. Mas ainda é uma sociedade rala, pouco urbanizada. A urbanização está presente na vida de uma pequena minoria. A maioria está no espaço rural. Ela não vem para a cidade, a ideia do espaço público não existe. Não sei como está Moçambique e para onde vai. É muito difícil dizer, porque o país vivenciou várias transições: colonização, revolução, socialismo, capitalismo, guerra, paz… Estamos em permanente incerteza. Estão se passando várias coisas com diferentes lógicas.
No momento político, o país vive a presidência aberta. Isso não é populismo?
Couto - Sim. Eu acho que é uma coisa populista. No formato, está certo. O presidente tem que estar na multidão. É uma coisa que nasceu em oposição à maneira de exercer autoridade, praticada pelo presidente Joaquim Chissano (que governou de 1986 a 2005). Ele tinha uma posição centralizadora. A tendência agora é retificar isso. Percebeu-se que o país é muito mais diverso do que se pensava no início. Agora, estamos em uma democracia formalmente aberta. Seja de que maneira, esse processo tinha que ser feito.
O que é mais importante ser solucionado em um país com tantos problemas?
Couto - O que falta mesmo é o país ter um pensamento, uma ideologia própria. Eu acho que cada um deles é grave: a pobreza, taxa de analfabetismo. A colonização portuguesa deixou o país sem nada, abaixo do zero. Acredito que o problema principal é sentir que existe uma visão clara sobre futuro, fundada não em discurso político, mas em um discurso verdadeiro, mais profundo, na procura daquilo que pode ser um caminho próprio. Com Samora Machel (primeiro presidente de Moçambique após a independência, de 1975 a 1986) havia uma ideia de futuro, uma aposta. As pessoas tinham uma crença, uma causa que agora não têm.
Então o que falta para recuperar essa crença?
Couto - O que falta é uma coisa em que as pessoas, na verdade, não acreditam. As pessoas têm uma ligação muito forte, muito filial com o político. Os presidentes são pais. Elas chamam o presidente de pai, grande pai. Nesse aspecto, o país se sente órfão. Desde que morreu Samora, as pessoas não se vêem naquilo que são os seus chefes. O grande sentimento que fica é de orfandade.
(Entrevista realizada em Maputo e publicada pelo G1, em 2009)

Maputo, Moçambique – Ele é referência quando se trata de literatura africana. Exímio poeta, Antônio Emílio Leite Couto, mais conhecido como Mia Couto é um homem incansável, com absoluta consciência do seu papel na sociedade. Jornalista, biólogo e escritor que assume várias vertentes, é acima de tudo cidadão.
Aos 54 anos, o dramaturgo fã declarado de Guimarães Rosa e cidadão moçambicano de Beira (uma das cidades mais afetadas pela guerra civil, que se prolongou de 1976 a 1992), coleciona 25 livros e prêmios importantes como o Vergílio Ferreira (1999), União Latina de Literaturas Românticas (2007), Prêmio Camões (2013) e o título de um dos 12 melhores livros africanos do século XX por “Terra Sonâmbula”, eleito na Feira Internacional do Livro do Zimbábue.
(Entrevista realizada em Maputo e publicada pelo G1, em 2009)

Entrevista com Mia Couto


Nova geração de autores nigerianos narra conflitos do país e visão distorcida do Ocidente sobre a África
LAGOS (NIGÉRIA) – Localizado no centro de Lagos, na sede restaurada de uma prisão colonial, o Freedom Park é um refúgio verde no coração da maior megalópole africana, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas. Num fim de semana de novembro, o parque abrigou a 16ª edição do Lagos Book & Arts Festival (Labaf), que homenageou os 80 anos do dramaturgo Wole Soyinka, ganhador do Nobel em 1986. Com um bom público circulando pelos antigos corredores da cadeia e por tendas nos jardins, o festival teve debates sobre a nova cena literária nigeriana e o crescente mercado para livros digitais na África, shows, peças, exposições e até um molue — como são conhecidos os precários ônibus amarelos que colorem os engarrafamentos da cidade — transformado em museu e biblioteca itinerante.
A variedade do Labaf é uma amostra do bom momento da literatura nigeriana, que contrasta com o índice de analfabetismo de quase 40% e os obstáculos para a liberdade de expressão no país. Embora ela seja mais conhecida no mundo por seus dois maiores expoentes, Wole Soyinka e Chinua Achebe (morto em 2013), há uma nova geração de escritores, radicados na Nigéria ou no exterior, que começa a ser mais conhecida. Alguns já são familiares para o leitor brasileiro, como Teju Cole e Chimamanda Ngozi Adichie, que têm livros traduzidos em português e estiveram na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Outros, como Helon Habila e Sefi Atta, permanecem inéditos no Brasil, mas colecionam prêmios e traduções.
Um dos convidados do Labaf, o dramaturgo e ficcionista Rotimi Babatunde participou de uma mesa sobre a literatura nigeriana contemporânea. Ganhador em 2012 do Caine Prize, principal prêmio literário do continente, ele foi um dos 39 escritores africanos com menos de 39 anos selecionados para a antologia “Africa39”, publicada em 2014 por iniciativa do Hay Festival britânico. No evento em Lagos, Babatunde enumerou alguns dos diversos temas da nova geração de escritores, como o retorno dos imigrantes nigerianos radicados nos Estados Unidos e na Europa, a expansão da classe média no país e a ameaça do Boko Haram.
— As gerações anteriores tinham temas comuns como o colonialismo e a ditadura. Também compartilhavam ideologias, como pan-africanismo e marxismo, que defendiam ou combatiam. As novas gerações não têm tantos elementos unificadores, o que leva a uma proliferação de estilos e temas — diz Babatunde, que vive em Ibadan, cidade universitária de 4 milhões de habitantes e um dos centros literários do país.
Um dos temas de Babatunde, inédito no Brasil, é a história de choques entre a Nigéria e o Ocidente. O conto “A República de Bombay”, pelo qual ganhou o Caine Prize, é protagonizado por um sargento nigeriano que, depois de combater na Segunda Guerra Mundial pelo Império Britânico, volta a seu país e declara a própria casa um Estado independente. Em “O tigre dos manguezais”, incluído em “Africa39”, um chefe tribal desperta um misto de fascínio e ódio em mercadores europeus no fim do século XIX.
— Meu objetivo quando escrevo não é desfazer equívocos sobre a África. Isso seria pouco. Quero criar meditações ficcionais sobre a experiência humana. E me esforço para tornar todo personagem, não importa sua raça, o mais interessante e complexo possível. Nesse processo, os equívocos são

expostos como os preconceitos intolerantes e patéticos que são — diz Babatunde.
Nascido nos EUA de pais nigerianos, criado em Lagos e hoje radicado em Nova York, Teju Cole escreveu sobre a visão ocidental da África no ensaio “O Complexo Industrial do Salvador Branco”. O texto de 2012 criticava a campanha viral de uma ONG americana pela prisão do líder guerrilheiro Joseph Kony, responsável por massacres em Uganda. Cole a acusava de simplificar o problema e apelar para o mito de que a África precisa ser “salva” pelo Ocidente, ignorando o papel da política externa americana no conflito e o esforço dos próprios ugandenses para lidar com Kony.
O ensaio foi lembrado em 2014 depois que a campanha pela libertação das centenas de meninas sequestradas pelo Boko Haram, criada na Nigéria com a hashtag #BringBackOurGirls, ganhou adesão de políticos e celebridades de todo o mundo. Em maio, Cole escreveu no Twitter (@tejucole): “Lembrem-se: #TragamNossasGarotasDeVolta, um momento vital para a democracia nigeriana, não é o mesmo que #TragamNossasGarotasDeVolta, uma onda de sentimentalismo global”.
— Se por um lado há ideias sintomáticas como “Esses africanos não têm salvação” ou “Esses nigerianos são todos uns criminosos”, a questão mais fundamental é que uma pessoa branca na Europa ou nos EUA no fundo não considera o nigeriano como um igual. Há brancos que nunca diriam algo racista, mas ainda assim não veem o negro como um igual — diz Cole, por e-mail. — Quero que meus leitores levem a sério a questão da igualdade. Talvez um escritor não possa fazer muito para mudar a sociedade, mas pode fazer um pouco, e esse pouco já faz diferença.
Colaborador de veículos como “New Yorker” e “Granta”, Cole, de 39 anos, reflete sobre o trânsito entre culturas no romance “Cidade aberta”, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. O livro acompanha as reflexões de um médico de origem nigeriana em suas longas caminhadas por Nova York. A novela “Todo dia é do ladrão”, que a mesma editora lançará em 2016, acompanha o retorno de um imigrante nigeriano a Lagos. Atualmente, Cole trabalha em um livro de não ficção sobre a megalópole, baseado em entrevistas, pesquisa histórica e memórias pessoais.

— Como as grandes cidades brasileiras, Lagos é um lugar que abriga todo tipo imaginável de energia humana. É um lugar filosófico, sedutor, improvisado, um lugar de amor, medo, dinheiro, perigo e frustração. O que a torna uma cidade única é que, mesmo tendo uma população de quase 21 milhões de pessoas, o mundo não sabe quase nada sobre ela — diz Cole.
A cidade é também o foco do projeto mais recente da escritora Chimamanda Ngozi Adichie, de 37 anos, outra selecionada na antologia “Africa39”. Criado em 2014, o blog “As pequenas redenções de Lagos” (http://americanahblog.com) é uma espécie de continuação do romance “Americanah”, que ganhou o prêmio da Associação Nacional de Críticos dos EUA e foi publicado no Brasil ano passado pela Companhia das Letras.
A protagonista do livro, Ifemelu, é uma estudante nigeriana nos EUA que cria um blog sobre as tensões raciais no país. No novo blog, Chimamanda imagina o que Ifemelu escreveria sobre a Nigéria ao retornar depois de mais de uma década no exterior. Há comentários sobre o dia a dia na cidade, o combate ao Ebola em meados de 2014 e, claro, o Boko Haram.
— A Nigéria sempre teve tensões religiosas. No Sul, de maioria cristã, muita gente acha que todo mundo no Norte apoia o Boko Haram. Mas precisamos lembrar sempre que a maioria das vítimas de atentados é muçulmana — disse Chimamanda, que vive entre Baltimore (EUA) e Lagos, em entrevista por telefone em setembro, na época do lançamento de “Americanah” no Brasil.

Nascida em Enugu, no Sudeste do país, habitado pelo povo ibo, de maioria cristã, Chimamanda retratou as divisões étnicas e religiosas da Nigéria em “Meio sol amarelo” (Companhia das Letras, 2006). O romance é ambientado nos anos 1960, durante a guerra civil que causou a morte de centenas de milhares de nigerianos, a maioria deles ibo. Ela critica o presidente Goodluck Jonathan por não agir para evitar um novo conflito de grandes proporções.
— A Nigéria é um gigante na África, podemos lidar com isso. Mas o Exército nigeriano não está preparado para enfrentar o Boko Haram. E o governo não é honesto sobre isso, não demonstra capacidade de liderança. Vai ser uma luta muito longa.

Genocídio
A gente fica de um lado para o outro, lutando, discursando, brigando. Chamando a atenção para um momento tão sério e tão pesado, é como se após 126 anos nada tivesse mudado realmente. Mas o que são 126 anos para história? Menos de um segundo. Esse é o tempo em que uma bala, um projétil disparado por uma arma de fogo demora para sair de seu local de destino e atravessar a carne de outra pessoa. Em menos de um segundo tudo muda.
A pouco o Jornal Nacional divulgou o mapa do percentual de homícidios contra jovens negros no Brasil. Li postagens de pessoas no facebook chamando isso de vitimismo negro. Vitimismo. Pela graça de Deus eu não sou mais um número nesse vitimismo, e por mais graça ainda tenho meus amigos como prova, boa parte deles vivos e em condições de atestar o que eu digo. Apesar de filho de policial, estudioso, adepto a leitura e nunca haver me envolvido com o crime poucas não foram as vezes em que escapei da morte vindo de um baile, um encontro amoroso, da praça de Trindade ou do trabalho.
Armas na cara no shopping Bay Market após o trabalho, umas partidas no fliperama com meu amigo de sempre, Abadá, virou um interrogatório porque fomos "denunciados anonimamente" como assaltantes no shopping. Chuva de porradas de cacetes na saída de um baile funk porque "pretos não podiam andar em grupo" que eram tirados como vândalos ou "sementes do mal". Pistola na boca para uma "averiguação" de rotina na esquina de casa numa sexta à noite, entre outras. Meu amigo Fernando deve lembrar da vez em que fui confundido com um bandido da área (que fisicamente nada tinha a ver comigo, mas aos olhos do matador de aluguel "preto sempre é tudo igual"), e como foi difícil escapar da morte aquele dia...
Mas fico pensando num fato mais recente, que aconteceu não comigo, mas poderia ter sido e reproduzo aqui o texto da repórter do The New York Times, Vanessa Barbara para ilustrar o fato.
Em uma noite de sexta-feira no mês passado, faltava luz nas ruas da Palmeirinha, uma favela no Rio de Janeiro. Três adolescentes negros estavam brincando em frente de suas casas. Um deles começou a correr e os outros seguiram, rindo. Naquele momento, a polícia saiu atirando. Chauan Jambre Cezário, 19, foi gravemente ferido. Alan de Souza Lima, 15, morreu no local com celular nas mãos - ele registrou tudo em vídeo, incluindo seus próprios últimos momentos agonizantes.
Segundo a nota oficial divulgada no dia seguinte, os rapazes foram baleados depois de um confronto com a polícia. Os policiais alegaram ter encontrado duas armas no local e acusaram Cezário de resistir à prisão. O rapaz, que vende chá gelado na praia de Ipanema, foi levado para o pronto-socorro e algemado ao leito do hospital.
Dias depois, o vídeo por celular de nove minutos se tornou público. As imagens mostram claramente que os adolescentes não tinham nenhuma arma e que não houve nenhum confronto ou resistência. Segundos após os disparos, um policial perguntou porque estavam correndo, ao qual um Cezário sangrando respondeu: A gente tava brincando, senhor.
As acusações foram retiradas, mas sua experiência, e a morte de seu amigo mais jovem, reflete a história da violência contra os homens negros jovens no Brasil.
Os afro-brasileiros - pessoas que identificam a si mesmas como negros ou morenos - correspondem a 53% de nossa população, um total de cerca de 106 milhões de indivíduos. É a maior população negra fora da África e a segunda maior depois da Nigéria. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), brasileiros negros com idades entre 12 e 18 anos apresentam uma probabilidade três vezes maior de serem mortos do que seus pares brancos, e uma pesquisa pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que os negros brasileiros representam 68% de todas as vítimas de homicídio.
A probabilidade também é maior de serem vítimas de mortes pela polícia. Um estudo pela Universidade de São Carlos mostrou que 58% de todas as pessoas mortas no Estado de São Paulo pela polícia militar eram negras. Elas correspondem a 72% de toda a população carcerária do país.
Quando você vê uma viatura de polícia, seu coração gela , me disse Luiz Roberto Lima, um fotógrafo negro do Rio de Janeiro, que morou nas ruas na adolescência. Eles podem matar você por estar na rua ou por defender seus direitos, e também podem matar você por prazer. Mesmo que não tenha ficha criminal, eles podem inventar algo contra você. Ele se referia às infames mortes por resistência , quando as vítimas são baleadas após supostamente dispararem contra a polícia e não há maior investigação -o que provavelmente teria acontecido em Palmeirinha se não fosse pela evidência em vídeo.
A Desigualdade racial tem raízes históricas óbvias. A escravidão no Brasil durou por aproximadamente três séculos, do início do século 16 a meados do século 19, um período durante o qual cinco milhões de escravos foram trazidos da África para cá - cerca de 11 vezes mais do que para a América do Norte. A nação foi a última nas Américas a abolir a escravidão, em 1888.
Mas muitos afro-brasileiros ainda estão confinados às margens da sociedade. Hoje, quase 70% das pessoas que vivem na pobreza extrema são negras. E estão quase totalmente ausentes das posições de poder. Todos os 39 ministros do gabinete da presidente Dilma Rousseff são brancos, com exceção de um: a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Em uma recente entrevista para jornal, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie disse que o Brasil está em negação sobre a questão racial . Ela ficou surpresa ao saber, durante uma visita poucos anos atrás, que não falávamos muito sobre o assunto aqui, como se Racismo não fosse uma questão. Ela acrescentou: Não consegui deixar de notar como raça e classe estão conectadas no Brasil. Eu ia a restaurantes bons e não via uma única pessoa negra .
Essa observação pode ser confirmada pelo que alguns brasileiros chamam de teste do pescoço . Cunhado pelo servidor público Francisco Antero e pela professora de história Luzia Souza, ele consiste de contar o número de pessoas brancas e negras em papéis diferentes em circunstâncias diferentes. Estique o pescoço em uma joalheria, por exemplo, e conte quantos vendedores são negros, e então conte quantos são clientes. Ou espie em uma escola particular cara e conte quantos alunos e professores são negros, e quantos são serventes.
Eu apliquei recentemente o teste do pescoço em uma sorveteria cara em um bairro rico de São Paulo. Cinco dos sete funcionários eram negros, em comparação a um entre 30 clientes - e suspeito que ele era estrangeiro. Então, em um ônibus municipal, dentre duas dúzias de passageiros, eu notei que era uma das apenas três pessoas brancas.
Para melhorar esta situação, o governo brasileiro introduziu nos últimos anos alguns poucos programas afirmativos, como destinar para minorias raciais um certo percentual de empregos no Serviço Público e vagas em universidades públicas. Ele também concedeu direitos parciais de propriedade para nove comunidades formadas por quilombolas (descendentes de grupos de escravos fugitivos). Apesar desses direitos de propriedade serem garantidos pela nossa Constituição, apenas estimados 5,8% das 214 mil famílias que vivem em quilombos as receberam.
O mais antigo programa de ação afirmativa em universidade existe há 10 anos, mas ainda enfrenta fortes críticas. Um dos maiores jornais do Brasil assumiu uma firme posição editorial contra as Cotas raciais em universidades, argumentando que um sistema que encoraje a diversidade socioeconômica bastaria. Os críticos às vezes consideram as cotas como discriminação reversa ou temem que possam incitar o ódio racial em nossa imaginada democracia racial , onde negros e brancos brincam lado a lado nas ruas sem serem baleados no peito.
É como Adichie disse. O Brasil ainda está em negação.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
