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Rosa Parks

 

"você nunca deve ter medo sobre o que você está fazendo quando é certo"

 

Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913 – Detroit, 24 de outubro de 2005), foi uma costureira negra norte-americana, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.

 

Ficou famosa, em 1º de dezembro de 1955, por ter-se recusado frontalmente a ceder o seu lugar no ônibus a um branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado Boicote aos Ônibus de Montgomery e posteriormente viria a marcar o início da luta antissegregacionista.Foi através dessa atitude que o então jovem pastor negro Martin Luther King Jr., concordando com a atitude de Rosa Parks, incentivava em seus sermões os negros fiéis a fazerem o mesmo.Este movimento teve grande repercussão nos Estados Unidos na década de 1950, pois o honroso pastor pregava pelos direitos civis dos negros americanos através da teoria "say at less… I'm black, I'm proud" (tradução livre: "ao menos diga... Eu sou negro, com muito orgulho"), que mudou completamente a história dos Direitos Civis para os negros americanos e influenciou gerações de negros no mundo inteiro. A atitude solitária de Rosa Parks, ao ser acolhida por Martin Luther King, Jr. nunca mais foi uma atitude solitária.

 

Depois de se aposentar, escreveu sua autobiografia. Os anos finais de sua vida foram marcados pelo Mal de Alzheimer, e no ano de 2005 morreu de causas naturais.

"Um povo sem o conhecimento do seu passado histórico, origem e cultura é como uma árvore sem raízes!"

Marcus Garvey

 Mumia Abu-Jamal, pseudônimo de Wesley Cook (nascido em 24 de Abril de 1954) é um ex-integrante do Partido dos Panteras Negras que se tornou jornalista na Filadélfia e ficou popular com o seu programa de rádio "A voz dos sem-voz".

 

 Jornalista e militante negro anti-racista, Mumia foi preso em 9 de Dezembro de 1981, sob a acusação de ter assassinado o oficial de polícia Daniel Faulkner na Filadélfia. A partir de então sucedeu-se uma longa e incessante batalha judicial, repleta do clamor de personalidades e milhares de manifestantes por um julgamento justo, apesar da constatação de inúmeras irregularidades em seu processo.

 

 A data de sua execução foi remarcada várias vezes e depois suspensa e por mais que as autoridades tentem tratá-lo como um criminoso comum, Jamal é atualmente, o único prisioneiro político dos Estados Unidos condenado à morte, embora não tenha sido o primeiro.Segundo o relato de várias testemunhas, tudo começou quando Jamal interveio para socorrer seu jovem irmão, que estava sendo brutalmente espancado por Faulkner. Havia um outro homem, não identificado, no meio da briga. Houve muita confusão, gritos e disparos. Quando outros policiais chegaram ao local, Jamal estava ferido e Faulkner morto. As mesmas testemunhas declararam ter visto o homem não identificado - que não se parecia com Jamal - fugir do local. Aqui começam as flagrantes irregularidades: nenhuma perseguição ou busca foi feita na hora pela polícia. A arma que foi encontrada com Jamal não poderia ter disparado as balas que mataram o policial. Nenhum exame de balística foi efetuado para saber se a arma de Jamal tinha sido utilizada. E mais: nenhuma das testemunhas que saíram em sua defesa foi arrolada no processo. Uma delas declarou que a polícia o ameaçou de prisão se testemunhasse. Alguns asseguraram que a polícia os havia intimidado para que eles mudassem seu testemunho. Para coroar essa montanha de irregularidades, o juiz que presidiu o processo, Albert Sabo, declarou publicamente sua hostilidade em relação a Jamal, que em sua juventude foi membro do movimento Black Panthers.

 

 Jamal foi levado a julgamento na corte presidida por Albert Sabo Sabo em Junho de 1982 e condenado à morte em 3 de Julho. Sabo tinha a fama de “recordista” em número de condenações à morte (seis antigos promotores de Filadélfia declararam, sob juramento, que nenhum réu poderia esperar julgamento imparcial na Corte de Sabo). O júri do caso só foi formado após a remoção de onze negros perfeitamente qualificados.O advogado de defesa de Jamal declarou publicamente que não havia entrevistado nenhuma das testemunhas, e que não estava preparado para o julgamento. Apesar disso, Sabo recusou a Jamal o direito de fazer sua própria defesa. Segundo a promotoria, Jamal teria confessado, no hospital, a autoria da morte de Faulkner, mas um relatório assinado pelo policial Gary Wakshul (que fez a guarda do réu), e não apresentado ao júri, diz que “o negro nada comentou”. Quando a defesa convocou Wakshul, a promotoria alegou que ele estava de férias e fora de alcance, e o juiz não aceitou esperar seu regresso; hoje se sabe que ele estava em casa.O médico de Jamal também negou ter ouvido qualquer confissão. As supostas incongruências se acumulam, seriam necessárias várias páginas para as descrever. A promotoria não apresentou nenhuma prova material de suas acusações. Em contrapartida, foi comprovada a prática de intimidação de testemunhas. Veronica Jones, que primeiro depôs contra Jamal e depois mudou a história, declarou que fora obrigada a mentir: policiais haviam ameaçado usar contra ela antigas acusações de mau comportamento que poderiam custar-lhe a guarda dos filhos. Quando Verónica contou isso, foi imediatamente presa. Mas o caráter político do julgamento pode ser inferido dado que o FBI (polícia federal) apresentou, como “prova” contra Jamal, um arquivo de mais de 600 páginas contendo um resumo de suas atividades como militante do movimento negro.

 

 Jornalista graduado, Jamal tornou-se locutor de rádios locais e de uma rede nacional de emissoras negras. Além de entrevistar gente como Bob Marley e Alex Haley, ficou conhecido como “a voz dos que não têm voz”. Denunciava a violência policial - em particular, as de natureza racista - e os dramas diários da população pobre. Foi várias vezes ameaçado por policiais e autoridades, como o prefeito Frank Rizzo. Em 1994, a rede Rádio Pública Nacional o contratou para fazer comentários sobre a vida na prisão. O programa foi cancelado antes de começar, sob forte pressão do The New York Times, do senador Robert Dole (então, líder da maioria no Senado) e da Ordem Fraternal (que tentou, em 1995, proibir a publicação de seu livro Live from Death Row - Ao Vivo do Corredor da Morte, lançado no Brasil pela Conrad Editora). Seguiu-se uma complexa, árdua e política batalha judicial logo após a sua sentença de morte em julho de 1982. A dimensão do caso, levou a que várias entidades e personalidades clamassem por justiça, em sua defesa, tais como : Congresso Nacional Africano, Anistia Internacional, Parlamento Europeu, Ordem Nacional dos Advogados (dos Estados Unidos), Coalizão Nacional pela Abolição da Pena de Morte, Jaques Derrida, Stephen Jay Gould, Jesse Jackson, Danielle Mitterrand, Salman Rushdie, arcebispoDesmond Tutu, Elie Wiesel.

 

 Em janeiro de 1999, a banda de rapcore Rage Against the Machine e três outras bandas de rock promoveram um concerto em Nova Jérsey, em defesa de Jamal. A governadora Christine Whitman lamentou não poder proibir a atividade, e propôs um boicote à atividade. O espectáculo foi um grande sucesso de público e bilheteria. Em 2008, o Tribunal de Apelaçao do 3º Distrito confirmou as condenaçoes, mas pediu uma nova audiencia de determinaçao de pena, declarando que o juri nao havia recebido instruçoes apropriadas do juiz. . Em 2011, o mesmo tribunal de apelaçao confirmou a condenação e a decisão de anular a sentença de pena de morte, e o promotor de Philadelphia anunciou que estava desistindo de exigir a pena de morte para o condenado. Em janeiro 2012, Mumia Abu Jamal saiu do corredor da morte.

 

Mumia Abu-Jamal

Nneka

 Nneka Egbuna Lucia (nascido em 24 de dezembro de 1980) é uma alemã/nigeriana cantora e compositora de soul e hip-hop. Ela canta em Igbo e Inglês.Filha de pai nigeriano e mãe alemã ela nasceu e cresceu em Warri , na região do Delta da Nigéria .

 

 Nneka adorou a experiência de cantar desde muito cedo em sua escola e no coro da igreja. Depois de mudar-se para Hamburgo , na Alemanha, com a idade de 18 anos, ela seguiu a carreira de cantora junto com uma licenciatura em Antropologia na Universidade de Hamburgo.

 

 Sua raiz musical principal e mais importante tem como fonte de inspiração músicos ativistas como Fela Kuti, Bob Marley, bem como os rappers contemporâneos Mos Def , Talib Kweli e Lauryn Hill.Suas letras refletem muito de sua história e da vida na Nigéria, bem como seu tempo gasto na Europa Ocidental. Suas canções salientam os problemas do capitalismo, a pobreza e a guerra, e são muitas vezes carregados com mensagens morais e bíblicas.

 

Muitos a comparam com Erykah Badu , Neneh Cherry e Floetry.

 

 

 

 

 

Fela Anikulapo Ransome Kuti (Abeokuta, 15 de Outubro de 1938 — Nigéria, 2 de Agosto de 1997) foi um multi-instrumentista nigeriano, músico e compositor, pioneiro da música Afrobeat, ativista político e dos direitos humanos.Fela Kuti nasceu em Abeokuta, no estado de Ogun, na Nigéria, em uma família de classe média alta do ramo Igbá dos Iorubás. Sua mãe, foi a primeira mulher nigeriana a dirigir um automóvel, foi uma feminista atuante no movimento anticolonial, e seu pai, Reverendo Israel Oludotun Ransome-Kuti, um pastor protestante e diretor de escola, foi o primeiro presidente da União Nigeriana de Professores e tornou-se um político de considerável influência.Em 1969, no meio da Guerra Civil da Nigéria, Fela foi com sua banda para os Estados Unidos, passando a chamá-la Fela-Ransome Kuti and Nigeria 70. Lá, descobriu o movimento Black Power por meio de Sandra Smith, uma partidária do Panteras Negras, que influenciaria fortemente sua música e suas visões políticas. 

Ela apresentou a Fela o trabalho de Malcolm X, Eldridge Cleaver e outros ativistas e pensadores negros. A partir de então, Fela compreenderia melhor a luta de sua mãe pelos direitos dos africanos que estavam sob o regime colonial, assim como o apoio que ela dava à doutrina do Pan-Africanismo exposta por Kwame Nkrumah. Essas ideias também o inspiraram a criar seu próprio estilo musical, que ficaria conhecido como afrobeat, uma mistura do jazz americano com o rock psicodélico e o highlife da África Ocidental.

Fela Kuti

"coragem pode ser a mais importante de todas as virtudes, pois sem ela não se pode praticar qualquer outra virtude com consistência!"

Maya Angelou, poetisa

Ter inimigos é bom. Muitas vezes eles são os únicos que percebem o que a gente faz.

Sérgio Vaz, escritor, poeta

Encontrei minhas origens

Em velhos arquivos

Livros

Encontrei

Em malditos objetos

Troncos e grilhetas

Encontrei minhas origens

No leste

No mar em imundos tumbeiros

Encontrei

Em doces palavras

Cantos

Em furiosos tambores

Ritos

Encontrei minhas origens

Na cor de minha pele

Nos lanhos de minha alma

Em mim

Em minha gente escura

Em meus heróis altivos

Encontrei

Encontrei-as enfim

Me encontrei

Encontrei Minhas Raízes

(Oliveira Silveira)

 Rubin "Hurricane" Carter (6 de maio de 1937, Paterson, Nova Jersey - 20 de abril de 2014, Toronto, Canadá) foi um ex-boxeador peso médio norte-americano no período entre 1961 e 1966, conhecido por ficar preso por 19 anos acusado de triplo homicídio. A injustiça teria sido motivada por racismo, e Hurricane travou uma longa batalha judicial para provar a sua inocência. A sua história inspirou a música "Hurricane", do cantor e compositor Bob Dylan, o filme "The Hurricane" ("Hurricane - O Furacão"), com Denzel Washington como protagonista, e ainda uma série de livros.

 

 Hurricane foi surpreendido pela polícia quando andava de carro com amigos, sendo preso por um crime do qual anos mais tarde seria inocentado. Na prisão viu sua carreira de boxeador ir por água abaixo, sendo que era o favorito ao cinturão de Peso Médio do ano de 1966, isso aos 29 anos de idade. Estava junto com seu amigo John Artis e ambos foram condenados pelo homicídio de três pessoas em um bar da cidade. Duas testemunhas no local do crime confirmaram os dois como os autores do triplo assassinato (porém há suspeita de perseguição racial).

 

 Ele foi condenado sem provas em 1967, e foi novamente julgado em 1976, sendo mais uma vez incriminado pelos três assassinatos. Artis passou 15 anos na cadeia antes de obter sua liberdade. Após uma campanha que contou com o apoio de estrelas como Bob Dylan e Muhammad Ali, Carter ganhou a liberdade em 1985 com a retirada do processo e a anulação da pena. O juiz que cuidou do caso na época afirmou que conclusões sobre a prisão foram "com base no racismo e não na razão, assim como na ocultação da verdade".

 

 Quase trinta anos depois, em 1993, recebeu o Cinturão de Campeão de Peso Médio do Boxe, algo nunca concedido a um ex-lutador. O episódio foi eternizado na música Hurricane, de Bob Dylan.Também há um filme sobre sua vida chamado The Hurricane, protagonizado por Denzel Washington, numa antológica versão adaptada ao cinema.

 

 O ex-boxeador morreu no domingo dia 20de Abril de 2014, aos 76 anos, em sua casa em Toronto, no Canadá enquanto dormia, Carter lutava contra um câncer na próstata. a informação foi confirmada pelo amigo e companheiro de profissão John Artis.

Rubin "Hurricane" Carter

Você pode me riscar da História

Com mentiras lançadas ao ar.

Pode me jogar contra o chão de terra,

Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.[...]

Pode me atirar palavras afiadas,

Dilacerar-me com seu olhar,

Você pode me matar em nome do ódio,

Mas, ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.[...]

Da favela, da humilhação imposta pela cor

Eu me levanto

De um passado enraizado na dor

Eu me levanto

Sou um oceano negro, profundo na fé,

Crescendo e expandindo-se como a maré.

Deixando para trás noites de terror e atrocidade

Eu me levanto

Em direção a um novo dia de intensa claridade

Eu me levanto

Trazendo comigo o dom de meus antepassados,

Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.

E assim, eu me levanto

Eu me levantoEu me levanto.

Pedro

 

Nasceu em dia de chuva,

No ventre da tempestade.

Deus deu-lhe a vida

A mãe, luz a pele escura.

Dona Ana era jardineira

Plantava flores sobre pedras.

O pai, espinho de trepadeira,

Apenas doou o esperma.

Pedra preciosa

Foi recebido pelo destino

Com quatro pedras na mão.

A fome, de forma desonrosa

Transformou em homem, o menino

Que brincava com os pés no chão.

Por causa da pobreza,

A pedra do seu sapato,

Vendeu pedra de gelo

Com gosto de chocolate.

Humilde,

mas só se curvou de joelhos quando foi engraxate.

Pedra lascada

Construiu edifícios,

Varreu ruas, escreveu poemas.

Mestre sem nenhum ofício

Tornou-se pedregulho, no rim do sistema.

Rocha,

Onde a vida queria grão de areia,

O poeta canta sua dorrima a dor alheia.

E sem deixar pedra sobre pedra

Do rancor, o amor ele sampleia.

Ainda assim, eu me levanto

( Maya Angelou)

Do livro "O Colecionador de Pedras" de Sérgio Vaz

 Emmanuel Jal (nascido Jal Jok c. 1980) é um sul-sudaneses músico, ex- criança-soldado , e ativista político.

 

 Jal era uma criança quando explodiu a segunda guerra civil sudanesa. Seu pai se juntou ao Exército de Libertação (SPLA) e sua mãe foi morta por soldados leais ao governo. Ele decidiu juntar-se aos milhares de crianças que viajam para a Etiópia em busca de formação e oportunidade. Ao longo do caminho no entanto, Jal com muitas crianças foram recrutados pelo SPLA e levados para campos de treinamento militar no mato, local disfarçado como escola para despistar agências de ajuda internacional e representantes da ONU. Quando a luta se tornou insuportável Jal e algumas outras crianças decidiram fugir.

 

 Eles ficaram em fuga por três meses e muitas crianças morreram no caminho, até chegarem à cidade de Waat , que era a sede de um pequeno grupo que havia se separado da SPLA. Em Waat, Jal conheceu Emma McCune, uma britânica que prestava trabalho humanitário e era casada com o comandante Riek Machar. Emmanuel tinha apenas 11 anos na época e foi adotado por McCune que o "contrabandeou" pelo Quênia. Emmanuel freqüentou a escola em Nairobi e McCune morreu em um acidente de trânsito alguns meses depois, ele então foi obrigado a viver nas favelas de refugiados já que o marido de McCune não quis ficar com ele. Porém, um casal de amigas de McCune (Madeliene Bunting e Anna Ledgard) o ajudaram a continuar seus estudos.

 

 

 Mesmo com as dificuldades vividas durante anos nas favelas Jal encontrou seu caminho através do hip-hop e descobriu que o gênero abrigava um poder incrível, tanto espiritual quanto político. Enquanto estudava no Quênia, Jal começou a cantar para aliviar a dor de suas experiências ao mesmo tempo que foi tornando-se muito ativo em sua comunidade, arrecadando dinheiro para crianças de rua e refugiados. Com o incentivo das pessoas ao se redor, Jal se tornou cada vez mais envolvido com a música e formou vários grupos. Seu primeiro single, "All We Need Is Jesus", foi um sucesso no Quênia e recebeu airplay no Reino Unido.

 

 Hoje além de musico Jal é ativista e sua autobiografia, War Child: A História de um Soldado da criança, foi publicado em 2009.

 

Emmanuel Jal 

"Somente nos Estados Unidos um correspondente de uma corte pode ouvir um juiz dizer: Eu estou indo ajudar-lhes a fritar o negro!, e ao relatá-lo, o judiciário virar os olhos como se fosse cego."

 

Mumia Abdul-Jamal

"Amei certo as pessoas erradas. Amei errado as pessoas certas. Nunca fui bom em amar e ser amado… amar me parece coisa de profissional e não para amadores como eu."

 

Sérgio Vaz

"Ninguém tem o direito de aprisionar o pensamento, por mais vadio que ele seja."

 

Sérgio Vaz

"Enquanto eles capitalizam a realidade,

eu socializo os meus sonhos."

 

Sérgio Vaz

“Eu aprendi que você pode dizer muito sobre uma pessoa, pela forma com que ela lida com três coisas: um dia chuvoso, uma bagagem perdida e os nós dos pisca-piscas emaranhados da árvore de Natal.”

Maya Angelou

“O preconceito é um fardo que confunde o passado, ameaça o futuro e torna o presente inacessível.”

 

Maya Angelou

Hurricane
conhecimento

 Este caso acabou com a segregação no sistema de escolas públicas.Nota: Em 2006, o cineasta Kiri Davis recriou o estudo das bonecas e documentou em um filme intitulado A Girl Like Me . Apesar das muitas mudanças em alguns setores da sociedade, Davis encontrou os mesmos resultados que fizeram os Clark em seu estudo do final dos anos 1930 e início dos anos 1940. Na experiência original a maioria das crianças escolhem as bonecas brancas. Quando Davis repetiu a experiência em 15 das 21 crianças também escolher as bonecas brancas sobre as pretas, dando razões semelhantes como os temas originais, associando branco como sendo "bonito" ou "bom" e preto com o "feio" ou "ruim". Os bonecos utilizados no documentário eram idênticos, exceto pela cor da pele.O teste de coloraçãoO teste de coloração foi outro experimento que estava envolvido no vs Board of Education decisão Brown. Maine e Kenneth fizeram esta experiência, a fim de investigar o desenvolvimento da identidade racial em crianças afro-americanas. O teste de coloração foi administrado a 160 crianças Afro-americanas entre as idades de cinco e sete anos de idade. As crianças receberam um pedaço de papel para colorir com: uma folha, um aplique, uma laranja, um rato, um menino e uma menina desenhados sobre ela. Todos receberam uma caixa de lápis de cor e lhes foi pedido para primeiro colorir o rato a fim de se certificar de que tinham uma compreensão básica de como as cores deveriam ser aplicadas. Caso fossem aprovados, eles eram então convidados a colorir um rapaz se fosse um menino e uma moça se fosse uma menina. Eles foram orientados a colorir o menino ou menina na própria cor que eles possuíam, e eram orientados a colorir o sexo oposto com a cor que gostariam de possuir. As crianças tendiam a colorir a imagem que os retratava com uma cor visivelmente mais leve do que a que eles realmente eram, mas 88% das crianças chamavam-se de marrons ou pretas. Elas, muitas vezes, diziam ter um tom de cor mais claro do que o rato. As crianças que eram mais velhas em geral eram mais precisas para determinar o tom de quão escuro deveriam ser. Quando lhe pediram para colorir a imagem do garoto que era o sexo oposto, 52% colocou branco ou uma cor irrelevante. A maioria das crianças de cor marrom queriam mostrar que possuíam auto-identificação, mas ao preferir branco estavam rejeitando a sua cor da pele. Isso mostra que as crianças negras se vêem como inferior na sociedade. Estes testes foram aplicados em diversas regiões dos USA e a maioria preferia as bonecas brancas e rejeitava as bonecas pretas. A conclusão foi de que o racismo afetava o desenvolvimento psicológico e a personalidade. Elas tinham a baixa autoestima e uma negação da ancestralidade africana. O belo e o bom era o branco, o feio e o ruim era o preto. Grande desafio que a comunidade preta teve que enfrentar para criar mecanismos que garantissem o amor a africanidade das crianças.

 Kenneth Bancroft Clark nasceu na Zona do Canal do Panamá em 1914, filho de Arthur Bancroft Clark e Miriam Hanson Clark. Kenneth foi o primeiro afro- americano a ganhar um doutorado em psicologia na Universidade de Columbia e assegurar uma cadeira permanente no City College de Nova York, além de se juntar ao Conselho Estadual de Regentes de Nova York e servir como presidente da Associação Americana de Psicologia. Além de seu trabalho como psicólogo e educador, ajudou empresas com políticas raciais e programas de contratação de minorias. 

 A sua mãe trabalhava como costureira e almejava para os filhos uma vida de melhores oportunidades, planejou então ir para os USA, o que gerou discordâncias com o seu marido, desencadeando na separação do casal. Ela seguiu para os USA com Kenneth e sua irmã Beulah e residiu no Harlem. Kenneth frequentou a escola publica e quando chegou ao nono ano, um conselheiro sugeriu que ele fosse estudar em uma escola profissional. Quando sua mãe soube disso foi à escola e disse que não voltou à Nova York para o seu filho trabalhar em uma fábrica. Miriam então o transferiu para a George Washington High School.

Mamie Phipps nasceu em Hot Springs, Arkansas em uma família. Seu pai era um médico e nativo das Índias Ocidentais Britânicas. Apesar de Mamie crescer durante a Grande Depressão americana e em um tempo do racismo e segregação, ela teve uma infância privilegiada. A ocupação e renda do seu pai lhes permitiu viver em um estilo de vida de classe média. No entanto, Mamie frequentou escolas primárias e secundárias segregadas, graduando-se Langston da High School de Pine Bluff, em 1934. Mesmo tendo uma vida que somente as pessoas brancas poderiam ter, frequentar uma escola segregada permitiu que ela visse como a sociedade tratava brancos e negros de forma diferente. Essa constatação contribuiu para a sua futura investigação da identidade racial em crianças negras. A pós assistir a uma aula de psicologia que o ajudou a entender melhor o racismo, Kenneth Bancroft convenceu-se e 

“Se a pessoa tiver sorte, uma fantasia solitária pode transformar-se totalmente em um milhão de realidades.”

 

Maya Angelou

convenceu sua até então amiga Mamie Phipps a estudar psicologia. Durante seu último ano, em 1937, Kenneth e Mamie se casaram; eles tiveram que fugir porque a mãe de Mamie não queria que ela se casasse antes de se formar. Mais tarde eles tiveram dois filhos juntos, Kate e Hilton.

Os dois estudaram os efeitos do racismo sobre a identidade e a autoestima de crianças em idade escolar em uma época de segregação em vigor nas escolas, foram fazer o doutoramento na Universidade de Columbia e continuaram o seu trabalho sobre os efeitos psicológicos do racismo. O reconhecimento do seu trabalho começou em 1946, ao fundar o Centro de Desenvolvimento Infantil Northside. Um dos seus trabalhos mais importantes foi a análise da patologia do racismo e os danos psicológicos, formulando uma pesquisa intitulada Teste de Auto-Percepção com crianças. Os experimentos da boneca dos Clark foram publicados em três grandes jornais entre 1939 e 1940 e falavam sobre a auto-percepção das crianças. Seus estudos descobriram contrastes entre as crianças afro-americanas que frequentavam escolas segregadas emWashington, DC versus as escolas integradas em Nova Iorque. O experimento da boneca envolvia uma criança onde lhe era apresentada duas bonecas. Ambas as bonecas eram completamente idênticas, exceto para a pele e cor do cabelo. Uma boneca era branca com cabelo amarelo, enquanto a outra era marrom com cabelo preto. A criança então, eram feitas perguntas a respeito de qual seria a boneca que com que gostaria de brincar, qual era a boneca mais agradável e a que se parecia ruim , a que teria a cor mais agradável e etc. O experimento mostrou uma clara preferência para a boneca branca entre todas as crianças do estudo. Estes resultados de racismo internalizado exposto em crianças afro-americanas, o auto-ódio era mais aguda entre as crianças que frequentavam as escolas segregadas. Esta pesquisa também abriu o caminho para um aumento na investigação psicológica em áreas de auto-estima e auto-conceito.Este trabalho sugere que, por sua própria natureza, a segregação prejudica crianças e, por extensão, da sociedade em geral, uma sugestão que foi explorada em várias batalhas judiciais. A Suprema Corte declarou que separados, mas iguais na educação era inconstitucional porque resultava em crianças afro-americanas com "um sentimento de inferioridade quanto ao seu status na comunidade”. 

Kenneth Clark & Mamie Phipps

 A Abolição começou a ser decretada em Portugal em 1767, proibindo que fossem enviados para o reino mais cativos vindos da África, e em 1773 foi decretada uma Lei do Ventre Livre naquele país. Na Dinamarca, isso se deu em 1792. Na França, em 1794 (ainda que Napoleão tenha tentado restabelecer a escravidão no Haiti em 1802). No México, uma primeira tentativa de Abolição foi feita em 1810, mas foi finalmente vitoriosa em 1829. Bolívar libertou cativos em 1816-7, durante suas lutas por independência, e finalmente aboliu a escravatura em 1821. A Inglaterra, que havia findado a escravidão pouco antes da Revolta dos Farrapos, pressionava o Brasil pelo fim do tráfico negreiro desde 1808. Willian Wilbeforce, um dos maiores abolicionistas da história, morreu em 1833, ou seja, dois anos antes da guerra no Sul do Brasil. Farrapos, portanto, conheciam, sim, e muito bem o abolicionismo. Entretanto, os principais chefes farrapos, Bento Gonçalves, Canabarro, Gomes Jardim e até Netto, dentre outros, eram todos ferrenhos escravistas. Quando aprisionado e enviado para a Corte no Rio de Janeiro, Bento Gonçalves teve o direito de levar consigo um de seus cativos para lhe servir. Ao morrer, o mais conhecido líder farroupilha deixou terras, gado e quase cinquenta trabalhadores escravizados de herança aos seus familiares. Bem diferente do que fizera Artigas no Uruguai anos antes, os farrapos jamais propuseram uma reforma agrária ou mesmo uma distribuição de terras entre seus soldados, mesmo os brancos pobres, que dirá os negros. A defesa da escravidão era tão clara entre os chefes farrapos a ponto deles jamais sequer terem mencionado o fim do tráfico negreiro. Ao fim da guerra já quase totalmente derrotados, os farrapos incluíram entre suas exigências para o Império o cumprimento da promessa de liberdade que haviam feitos aos Lanceiros (principalmente porque temiam que eles formassem uma guerrilha negra na província já que a quebra da promessa os faria se rebelar ou fugir para o Uruguai, destino comum de diversos cativos fugitivos na época). Queriam entregar-se ao Império, acabar a guerra, voltar à normalidade, mas tinham os Lanceiros e a promessa que lhes haviam feito, e o Império, escravista até a medula, não queria cumprir essa parte do acordo. A questão foi resolvida na madrugada de 14 de novembro de 1844, quando o general farrapo David Canabarro entregou seus Lanceiros desarmados ao inimigo, tudo previamente combinado com Caxias. Canabarro teria ordenado desarmar os cerca de 600 lanceiros à noite. O “pacto de extermínio” dos negros com Caxias foi feito, pois “manter a liberdade do grande contingente negro com experiência militar era um grande risco para sociedade”. Os lanceiros negros estavam acampados quando foram atacados de surpresa por forças sob o comando de Francisco Pedro de Abreu, o Moringue. O Corpo de Lanceiros Negros tentou resistir ao ataque, mas foram quase todos mortos. Teixeira Nunes, o Gavião, principal líder dos lanceiros negros, foi ferido durante o confronto e, dias após, sem condições de defender-se, foi assassinado. Morreram 100 negros em Porongos, sobreviveram 20 que foram mandados para o Rio de Janeiro onde provavelmente voltaram a ser escravos. A tropa de choque mais temida do Sul brasileiro foi dizimada no cair da madrugada, no serro de Porongos, hoje região de Pinheiro Machado (interior do Rio Grande do Sul. A instrução de Caxias a um de seus comandados foi clara e objetiva: a batalha teria que ser conduzida de forma tal que poupar apenas e dentro do possível o sangue de brasileiros (e o negro era então tratado como africano, mesmo que já nascido no Brasil). Enquanto dispôs suas tropas negras de tal maneira que ficassem desarmadas e descobertas, algo que até então nunca havia feito, Canabarro se encontrava bem longe e seguro do local, nos braços de Papagaia, alcunha de uma amante sua. Após o combate, um relato oficial avisou a Caxias que pelo menos 80% dos corpos caídos no campo de Porongos eram de homens negros. Calcula-se que, nos últimos anos daquela conflito, os farrapos ao todo somavam uns cinco mil homens, sendo que algo em torno de mil eram Lanceiros Negros. Após o Massacre de Porongos, porém, restaram apenas uns 120 deles, feridos, alguns mutilados, e que foram primeiramente enviados para uma prisão no centro do país e depois dispersados para outras províncias, ainda mantidos como cativos. Feito isso, deu-se a chamada rendição e paz do Poncho Verde, onde senhores escravistas dos dois lados trocaram abraços e promessas de lealdade e, logo depois, marcharam juntos e sob a mesma bandeira imperial contra o Uruguai, Argentina e Paraguai. Os Lanceiros Negros foram muito relevantes em seu papel na Revolução Farroupilha, pois muitas foram às batalhas em que as milícias negras foram decisivas nas vitórias contra as tropas imperiais. Infelizmente, o passado relacionado aos lanceiros negros farroupilha sempre esteve atrelado aos bastidores da historiografia oficial, e somente em 1870, é que surgiu o primeiro livro sobre o assunto.

 

 

Fontes de pesquisa:

 

  • BENTO, Claúdio Moreira.

 

  • O negro e descendentes na sociedade do Rio Grande Do Sul (1635- 1975). Porto Alegre, RS: grafosul, 1976.

 

  • BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. A incrível saga de um país. São Paulo: ática, 2003.

 

  • Moda na história/Família Real no Brasil/Revolução Farroupilha.

 

  • Revista Descobrindo a História. São Paulo: mythos, v.06, 2008.

 

 

 

Entre 1835 e 1845 o império brasileiro testemunhou o mais longo conflito ocorrido em nosso território, a Revolução Farroupilha. Movidos (como sempre) por motivos mercadológicos na venda do charque, os criadores escravagistas rio-grandenses optaram por uma politica separatista ao resto do país criando a Republica Rio-Grandense com sua proclamação de independência feita após o início da rebelião e proclamada nos campos de batalha pelo general Antônio de Souza Netto. É neste contexto histórico, que surgiram os lanceiros negros farroupilha. Quando um homem livre era chamado a servir tanto nas forças rebeldes quanto nas imperiais, podia enviar em seu lugar (ou no lugar de um filho seu) um de seus trabalhadores escravizados. Precisando formar uma infantaria e, sobretudo preferindo enviar outros como bucha-de-canhão, morrendo na frente de batalha em seu lugar, os farrapos alistaram negros escravos - também foi prática comum buscar atrair ou tomar cativos das tropas inimigas, trazendo-os para seu lado – em alguns casos os alforriavam e depois alistavam. Eram estes os famosos lanceiros negros. Eram recrutados em meio aos negros campeiros e domadores da atual Região Sul do Estado gaúcho (Canguçu, Pelotas, Bagé, Piraí…). Temidos pelo fato de serem truculentos, utilizavam como equipamentos de combate: lanças compridas; coletes de couro cru; esporas afiadas presas aos pés e boleadeiras. O primeiro exército a utilizar negros escravizados como soldados foi o imperial. Ambos, farrapos ou imperiais, prometiam também liberdade ao fim do conflito ou para aqueles que desertassem das tropas rivais, mudando de lado. Não havia igualdade nas tropas farroupilhas, muito menos democracia racial. Negros e brancos marchavam, comiam, dormiam, lutavam e morriam separadamente. Os oficiais dos combatentes negros eram brancos, e jamais um negro chegou a um posto significante, mesmo que intermediário, de comando. Aos Lanceiros Negros era vedado o uso de espadas e armas de fogo de grande porte. Não lutavam a cavalo, como costumam mostrar nos filmes e mini-séries de TV, mas sim a pé, pois havia o risco de se rebelar ou fugir. Sua arma principal era a grande lança de madeira que lhes deu nome e fama, algumas facas, facões, pequenas garruchas, os pés descalços, a bravura e o anseio pela liberdade prometida. Estima-se que em alguns momentos os lanceiros negros, tenham representado metade do exército rio-grandense. O africano José, escravo raptado de Angola, foi um desses homens que sonharam em conquistar a liberdade pegando em armas. Em dezembro de 1837, José foi preso e interrogado pelas autoridades imperiais em Porto Alegre, informando que quase toda a “infantaria dos brancos” já havia desertado e que naquele momento os combatentes seriam quase exclusivamente “pretos, uns com armas e outros com lanças”. Os havia entre os líderes farroupilhas e os imperiais o interesse abolicionista referente aos negros em suas fileiras, apesar da defesa da Abolição da escravidão ser bem conhecida na época.

Os Lanceiros Negros

"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o

lado do opressor!"

Desmond Tutu, Bispo

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lanceiros
Clark
rosa
mumia
nneka
fela
emanuel

Ao espelho te vejo negrinho
Te reconheço garoto negro
Vivemos a mesma infância
A melancolia partilhada do teu profundo olhar
Era a senha e a contra senha
Identificando nosso destino
Confraria dos humilhados
A povoar de terna lembrança
Esta minha evocação de Franca

Abdias Nascimento

   Abdias do Nascimento (Franca, 14 de março de 1914 — Rio de Janeiro, 24 de maio de 2011) foi um político e ativista social brasileiro.

 

 As raízes africanas mergulharam em terras brasileiras, e brotaram no interior de São Paulo e Minas, na vida do menino Abdias.

Nascido em Franca, capital dos calçados, conheceu descalço a vida rural e urbana daquele tempo ainda perto da escravatura. Trabalhava na cidade e brincava nas fazendas onde sua mãe prestava serviços, às vezes como ama-de-leite. Desse tempo ficaram as lembranças e os anseios de liberdade expressos no vôo de pássaros e borboletas.

 Como adulto, os múltiplos talentos e formas de expressão de Abdias Nascimento voltaram-se todos para o avanço da causa anti-racista. 
 Na dramaturgia, poesia e pintura, no engajamento na luta internacional pan-africanista e na atuação como deputado federal, senador e secretário de estado, desenvolveu aspectos dessa luta, a que dedicou plenamente uma vida de 90 anos. 

 Foi um dos maiores defensores da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil, nome de grande importância para a reflexão e atividade sobre a questão do negro na sociedade brasileira. Teve uma trajetória longa e produtiva, indo desde o movimento integralista, passando por atividade de poeta (com a Hermandad, grupo com o qual viajou de forma boêmia pela América do Sul), até ativista do Movimento Negro, ator (criou em 1944 o Teatro Experimental do Negro) e escultor.

 

 Após a volta do exílio (1968-1978), inseriu-se na vida política (foi deputado federal de 1983 a 1987, e senador da República de 1997 a 1999 assumindo a vaga após a morte de Darcy Ribeiro), além de colaborar fortemente para a criação do Movimento Negro Unificado (1978). Em 2006, em São Paulo, criou o dia 20 de Novembro como o dia oficial da consciência negra. Recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Brasília. Autor de vários livros: "Sortilégio", "Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos", "O Negro Revoltado", e outros. 

 Foi também professor benemérito da Universidade do Estado de Nova Iorque.

Foi casado quatro vezes. Sua terceira esposa foi a atriz Léa Garcia, com quem teve dois filhos, e a última a norte-americana Elizabeth Larkin, com quem teve um filho

 

 

 Abdias Nascimento foi professor Emérito, Universidade do Estado de Nova York, Buffalo (Professor Titular de 1971 a 1981, fundou a cadeira de Cultura Africana no Novo Mundo no Centro de Estudos Porto-riquenhos), artista plástico, escritor, poeta, dramaturgo. Bacharel em Economia, deputado federal (1983-86), Secretário de Estado do Governo do Rio de Janeiro da Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (SEAFRO) (1991-1994). Senador da República (1991-99). Suplente do Senador Darcy Ribeiro, assumiu a cadeira no Senado, representando o Rio de Janeiro pelo PDT em dois períodos: 1991-1992 e 1997-99. Secretário de Estado de Direitos Humanos e da Cidadania, Governo do Estado do Rio de Janeiro, 1999. Coordenador do Conselho de Direitos Humanos, 1999-2000.

Abdias Nascimento

Os Griots

Os griots, jali ou jeli (djeli ou djéli na ortografia francesa), é como são chamados na África, os contadores de histórias. Eles são considerados sábios muito importantes e respeitados na comunidade onde vivem. Através de suas narrativas, eles passam de geração a geração as tradições de seus povos. Nas aldeias africanas era de costume sentar-se à sombra das árvores ou em volta de uma fogueira para ali passar horas e horas a fio ouvindo histórias do fantástico mundo africano transmitidas por "este velhos griôts”., São histórias de caçadores e agricultores, bruxas e feiticeiros, reis e princesas, de heróis que atravessam a mata para cumprir seus destinos, de fundações míticas e de cidades. São também histórias de pequenas ou grandes disputas entre marido e mulher, histórias de amor , e, lendas de comunhão com os segredos da natureza e da terra

 Vivem hoje em muitos lugares da África ocidental, incluindo Mali, Gâmbia, Guiné, e Senegal, e estão presentes entre os povos Mandê ou Mandingas (Mandinka, Malinké, Bambara, etc.), Fulɓe (Fula), Hausa, Songhai, Tukulóor, Wolof, Serer, Mossi, Dagomba, árabes da Mauritânia e muitos outros pequenos grupos. Reza a tradição que lá nos sertões da África entre aldeias distantes circulam homens aprendendo e ensinando fatos históricos e culturais daquela região. Estes homens em Yoruba são conhecidos como Griôts. Quando os Griôts chegam nas aldeias, os pais afinam os tambores, as mães vestem as roupas mais bonitas e as crianças sentam na roda. E está aberto o ritual do Contador de Histórias.

 Os griôts ainda hoje funcionam como artistas, historiadores, contadores de histórias, artistas ambulantes, genealogistas e jornalistas. Eles vão de um lugar ao outro levando e trazendo notícias, contando histórias, cantando músicas. No passado, quando um griôt morria, a comunidade onde ocorria a morte abria o tronco de um baobá — como se sabe, uma árvore imensa - e ali dentro colocavam o corpo do griôt. Talvez a comunidade quisesse, assim, preservar o fato de que o griot tinha tanta importância que deveria continuar” vivendo “ dentro do organismo vivo que é a árvore. Mas talvez, o que este costume revele é aquilo que cada um de nós sabemos: a morte nos fascina, nos amedronta e nos lembra, a cada momento, que ela existe e que faz parte da vida

A palavra poderá derivar da transliteração para o francês "guiriot" da palavra portuguesa "criado".

Griots

Victoria Santa Cruz é uma compositora, coreógrafa e estilista, expoente da arte afroperuana. Muito ligada à arte e cultura, sobre tudo pela criação de sua companhia de dança Teatro y Danzas Negras.

 Filha de Nicomedes Santa Cruz Aparicio e Victoria Gamarra, começou no mundo das artes com grupo Cumanana (1958), junto com seu irmão mais novo Nicomedes Santa Cruz , famoso decimista e poeta. Ela recebeu uma bolsa do governo francês e viajou para Paris para estudar no Teatro da Universidade das Nações (1961) e na Escola de Estudos Coreográficos. Nesta última ganhou destaque como figurinista e criadora da obra El retablo de Don Cristóbal, de Federico García Lorca , e do papel-de-rosa , de Ramon del Valle Inclán .

 De volta a seu país, ela fundou o Teatro Negro Companhia de Dança e do Peru, com a qual ela fez apresentações nos melhores teatros nacionais e na televisão. Este grupo representou Peru nas festividades por ocasião dos Jogos Olímpicos de 1968, no México , onde recebeu sua medalha e diploma para o trabalho.

Mais tarde, em 1969, visitou em várias cidades dos Estados Unidos e retornar para Lima em maio do mesmo ano, foi nomeado diretor do Centro de Arte Popular, Escola de Folclore hoje. No primeiro Seminário Festival e Televisão da América Latina, organizado pela Universidade Católica do Chile , em 1970, ganhou o prêmio de melhor folclorista, e no ano seguinte ela foi convidada pelo governo da Colômbia para participar do Festival de Cali . Foi diretora do National Folklore Ensemble de Instituto Nacional de Cultura entre 1973 e 1982, e nessa condição ela fez uma bem sucedida turnê de Estados Unidos , Canadá , El Salvador , Guatemala , França , Bélgica , Suíça e o Principado de Mônaco .

 Ela atuou como professora visitante (1982), assistente (1983-1989) e viveu na Universidade Carnegie Mellon (1989-1999). Já realizou workshops em diferentes países como a Rússia , Israel , Canadá, Dinamarca , Espanha , Itália e Argentina .

 Hoje ela mora em Lima.

Victoria Santa Cruz

victoria

A arte africana tem como sua característica principal representar os usos e costumes das tribos africanas. O objeto de arte é funcional. Nas pinturas, como nas esculturas,a presença da figura humana identifica a preocupação com os valores étnicos, morais e religiosos. A escultura sempre foi a forma de arte mais usada, com o ouro, o bronze e o marfim como matérias prima principais. 

 

Adinkras são símbolos que formam um tipo de escritura pictográfica, que transmitem os valores acumulados pelos Akan (Ashanti) – grupo cultural presente no Gana, Costa do Marfim e no Togo, países da África do Oeste. Cada símbolo está associado a um provérbio ou ditado específico, a escrita adinkra reflete um sistema de valores humanos universais: família, integridade, tolerância, harmonia e determinação enraizados na experiência dos Akan. Existem mais de oitenta símbolos e a maioria deles é de origem ancestral, sendo transmitidos de geração em geração. Muitos representam virtudes, sagas populares, provérbios ou eventos históricos. São amplamente utilizados no cotidiano dessa sociedade, presente em tecidos, cerâmica, arquitetura e em objetos de bronze.

Da mesma maneira que os documentos escritos materializam a história nas sociedades ocidentais, em muitas culturas africanas é a arte que traz o conhecimento do passado até o presente.

 Adinkra significa 'Adeus' em dialeto Twi, porque originalmente eram utilizados para adornar o vestuário usado nas cerimônias fúnebres - os símbolos usados na roupa dos participantes expressavam as qualidades atribuídas ao falecido.

 Todos os símbolos têm um nome e transmitem uma mensagem. 

Hoje são usados por diversos meios de comunicação; objetos de decoração, camisetas, tatuagens, pintura de paredes, etc. Integrando assim o cotidiano das pessoas, que escolhem o seu “ ADINKRA” e imprimem-no como, onde e como quiserem.

 

Adinkras

Adinkra Akoko Nan - Proteção materna e paterna e disciplina temperada com paciência compaixão e carinho.

Adinkra Denkyemmireku - Unidade na diversidade e advertência contra as brigas internas quando existe um destino em comum

Adinkra Gye Nyame - Aceite Deus ele é onipotente e imortal Ninguém entende os mistérios da vida e nem a ordem do cosmos exceto Deus

adinkras

Maya Angelou, uma cidadãdo mundo!

 Maya Angelou, é o pseudônimo de Marguerite Ann Johnson nascida em St. Louis, Missouri, 4 de abril de 1928, faleceu recentemente em 28 de maio de 2014. Foi escritora, poeta, cantora, dançarina, atriz, ativista e cineasta americana. Maya Angelou saiu da pobreza, da segregação e da violência para se tornar um ícone na luta pelos direitos humanos.

 

 Angelou desafiou todas as probabilidades e tornou-se uma das primeiras mulheres negras a fazer sucesso comercial como poeta, além de ter prosperado em praticamente todos os meios de expressão artística. Ela passou de dançarina em clubes de strip-tease à escritora e poeta, tendo escrito, inclusive, o poema inaugural presidencial mais popular da história, “On the Pulse of the Morning”, para a primeira posse do presidente Bill Clinton, além de ter feito amizade com Malcolm X, Nelson Mandela e Martin Luther King Jr. 

 

 Passou a infância na Califórnia e viveu com a avó paterna na maior parte de sua infância. Quando tinha 8 anos ela foi estuprada pelo namorado da mãe e a isto levou a anos de mudez até que finalmente superou com a ajuda de uma vizinha atenciosa, e um grande amor pela literatura, aos 9 anos, Maya se comunicava escrevendo poesia.

 

 Aos 17, Maya se tornou a primeira motorista negra de ônibus em São Francisco e mãe solteira ao dar à luz seu primeiro filho, em uma época em que isso não era comum. Aos 20, dançava em boate e já tinha se casado com o primeiro de seus três maridos. Nesse tempo, ela dividia o palco com outras coristas e também artistas como a humorista Phyllis Diller (“Ora Bolas para as Pianolas”) e a cantora Billie Holiday. Em anos posteriores, ela se tornou a primeira mulher negra a ser roteirista e diretora em Hollywood. Na década de 50 - quando surgiu com o pseudônimo "Maya Angelou" (Maya era o sobrenome de infância)  ela se afirmou como atriz, cantora e dançarina em várias montagens teatrais que percorreram o país, tais como: Porgy and Bess, Calypso Heatwave, The Blacks e Cabaret for Freedom. 

 

 Fora dos palcos, ela trabalhou como coordenadora do Conselho de Liderança Cristã do Sul e viveu por muitos anos no Egito e em Gana, como jornalista e professora, ajudando vários movimentos de independência africanos, onde conheceu Malcolm X, durante a peregrinação que mudou os pontos de vista do líder dos movimentos civis, e manteve-se próxima a ele até o seu assassinato, em 1965. Três anos mais tarde, ela ajudou Martin Luther King Jr a organizar a Marcha das Pessoas Pobres em Memphis, no Tennessee, onde o líder dos direitos civis foi assassinado. No dia em que os EUA entraram em luto pelo porta-voz da igualdade racial, Maya completou 40 anos. “Desde então”, ela contou, “todos os anos, nesse dia, Coretta e eu enviamos flores uma à outra”, referindo-se à viúva de Martin Luther King, Coretta Scott King, que morreu em 2006. 

 

 Apesar de seu engajamento nos movimentos civis, Angelou ainda era pouco conhecida fora da comunidade teatral até o lançamento do seu livro autobiográfico “I Know Why the Caged Bird Sings”, em 1969. O livro de memórias foi ocasionalmente atacado por pais e educadores que reclamavam das passagens de Angelou sobre o seu estupro e gravidez na adolescência, tentando proibi-lo nas escolas. Apesar disso, o livro recebeu grande aclamação, e Angelou foi nomeada para o Pulitzer Prize em poesia no ano seguinte.

 

 Ela também foi um mentora da apresentadora e atriz Oprah Winfrey (“O Mordomo da Casa Branca”), com quem fez amizade quando Winfrey ainda era um repórter de televisão local. Angelou apareceu muitas vezes no talk show da sua amiga. Ela dominava várias línguas e já havia publicado livros de aconselhamento, livros de receitas e histórias infantis.

 

 Após ser nomeada para um prêmio Tony em 1973 por sua participação na peça “Look Away”, Maya fez sua estreia televisiva na famosa minissérie “Raízes” (1977), que contava a epopeia dos descendentes de um orgulhoso jovem africano, Kunta Quinte que fora aprisionado e vendido como escravo nos EUA.

 

 No mesmo ano, também participou de um especial do comediante Richard Pryor, mas passou duas décadas afastada da mídia, até fazer sua célebre leitura poética na posse do presidente Clinton em 1993, que a colocou novamente em voga. Este foi um dos pontos altos de sua carreira, ela recebeu o Grammy de melhor texto recitado pela leitura do mesmo e foi extremamente grata a Clinton, chegando a apoiar a pré-candidatura da ex-Primeira Dama Hillary Clinton contra Barack Obama, o primeiro presidente negro eleito dos EUA. Hilary virou Secretária de Estado de Obama e Maya ficou feliz por ambos.

 

 Maya voltou com tudo nos anos 1990, atuando nos filmes “Poetic Justice” (Sem medo no Coração de 1993), de John Singleton, sobre uma poeta negra interpretada pela cantora Janet Jackson e co-estrelado pelo rapper Tupac Shakur. Dois anos depois participou do drama “Colcha de Retalhos”, ao lado de Winona Ryder, Ellen Burstyn e Anne Bancroft, além das séries televisivas “Vila Sésamo” e “O Toque de um Anjo”.

 

 Em 1998, fez sua estreia na direção, lançando o filme “Ressurreição” (1998), sobre uma mulher (Alfre Woodard, de “12 Anos de Escravidão”) destruída pelas drogas que retorna para a casa de seus antepassados no Mississippi. Foi seu primeiro e único trabalho como cineasta.

 Desde então, ela só voltou ao cinema mais uma vez, para sua última aparição como atriz, na comédia “Madea’s Family Reunion” (2006), dirigida por Tyler Perry (“Relação em Risco”).

 

 Em 2011, ela recebeu do Presidente Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade por suas contribuições artísticas. E no ano passado foi homenageada com um prêmio honorário da National Book Foundation por sua carreira literária.

 

 Falecida no último dia 28 de Maio de 2014, Maya Angelou deixa uma brecha na cultura mundial, mas foi uma coluna desta mesma cultura e somos agradecidos por ela ter estado entre nós!

Maya

"A vida não é medida pelo número de respirações que damos, mas sim pelos momentos que nos tiram a respiração."

 

Maya Angelou

4/4/1926 - 28/5/2014

Angela Yvonne Davis (Birmingham, 26 de janeiro de 1944) é uma professora e filósofa socialista estado-unidense que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história dos Estados Unidos.

 

A mais perigosa

 

Angela Davis é natural do estado do Alabama, considerado um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e, de acordo com a sua autobiografia, desde criança sofreu na pele humilhações racistas. Leitora voraz desde criança, aos 14 ganhou uma bolsa para estudar em Greenwich Village, 

em Nova Iorque, fato que transformaria a sua vida, pois é neste momento que ela entra em contato com as teses comunistas e inicia a sua militância no movimento estudantil.

 

Ainda nos idos de 1960, Davis tornou-se militante ativa do Partido Comunista e do Panteras Negras, que à época lutava para conquistar o apoio da sociedade para libertar três militantes negros que estavam presos: George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette, conhecidos como os “irmãos soledad”, já que estavam detidos na Prisão de Soledad, em Monterey.

 

 

Em agosto de 1970, o FBI (Federal Bureau of Investigation) incluiu o nome de Angela Davis na lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI. Na mesma época, o presidente de então, Richard Nixon, chegou a declarar que “Angela Davis era uma ativista muito perigosa”. Assim, tornou-se a ativista negra classificada pelas forças estatais como a “mais perigosa” e “mais procurada”, pois estava em fuga.

 

No dia 7 de agosto, Jonathan Jackson, o irmão de 17 anos de George, em companhia de dois outros rapazes, interrompeu de armas na mão um julgamento num tribunal na tentativa de ajudar a fuga do réu do caso que estava sendo julgado, o amigo James McClain, acusado de ter esfaqueado um policial. Jonathan e seus amigos se levantaram do meio da assistência na sala do júri e renderam todos no recinto, conduzindo o juiz, o promotor e vários jurados para uma van estacionada do lado de fora. Ao entrar na van, Jackson gritou que 

queria os “Irmãos Soledad soltos até o meio dia e meia em troca da vida dos reféns”.

queria os “Irmãos Soledad soltos até o meio dia e meia em troca da vida dos reféns”.

 

No tiroteio que se seguiu com a perseguição policial ao grupo, Jonathan e um amigo foram mortos pela polícia, não sem antes matarem o juiz Harold Haley com um tiro na garganta e o promotor raptado ficou paralítico com um tiro da polícia. As investigações que se seguiram identificaram a arma de Jonathan como registrada em nome de Angela Davis.

 

A prisão de Angela Davis foi decretrada e a fotografia de “procurada” estampada nas vias públicas e nos principais jornais. Após dois meses, Davis se entregou. O seu julgamento levou 18 meses, tempo em que esteve presa e que resultou no livro “Angela Davis – Autobiografia de uma revolucionária”. A campanha pela libertação de Angela Davis, que ganhou a chamada de “Free Angela Davis” teve forte repercussão na sociedade norte-americana e contou com o apoio de figuras como John Lennon e Yoko Ono e da banda The Rolling Stones, ambos compuseram músicas em homenagem a Davis.

 

A ativista foi inocentada de todas as acusações.

Finalmente livre, Angela foi temporariamente para Cuba, seguindo os passos de seus amigos,os ativistas radicaisHuey Newton e Stokely Carmichael. Sua recepção na ilha pelos negros cubanos num comício de massa foi tão entusiástica que ela mal pôde discursar. De acordo com Carlos Moore, um escritor bastante crítico das relações raciais na Cuba comunista, sua visita ao país causou grande impacto entre a população negra num tempo em que expressões de identidade racial eram bem raras em Cuba. Suas credenciais revolucionárias permitiram aos nativos se identificarem de público com seus pensamentos, sem medo de serem taxados de contrarrevolucionários pelo governo cubano.

Em 1975, a militante libertária envolveu-se em novo embate polêmico, quando em discurso contra ela o dissidente russo Aleksander Solzhenitsyn, em Nova Iorque, acusou-a de hipocrisia por sua simpatia para com a União Soviética, já que omitia as condições dos presos políticos sob regime comunista. Em sua crítica, Solzhenitsyn mencionava carta de presos políticos checos endereçada a Angela, na qual pediam socorro, esperando que sua condição de celebridade comunista contribuísse para livrá-los da perseguição do Estado, e que denunciasse as duras condições de sobrevivência na cadeia. Os missivistas diziam-se vítimas da mesma injustiça que a própria Angela sofrera antes deles, pois também não tinham culpa, mas estavam presos. A resposta de Angela: “Eles merecem o que tiveram, que continuem na prisão!”, repercutiu muito na mídia da época.

 

 

Da luta racial para a luta da abolição

Em 1980 e 1984, Angela Davis foi candidata a vice-presidente da República pelo Partido Comunista dos EUA na chapa de Gus Hall. Desde a sua saída da prisão, Davis passou a entender o sistema carcerário como uma continuação das políticas racistas contra negros e imigrantes dos Estados Unidos. Desde então, seu ativismo político e acadêmico tem centrado fogo nesta questão.

 

Atualmente, a sua principal luta diz respeito à eficácia das políticas de cárcere. “O aprisionamento é a única maneira de tratar os crimes e as disfunções sociais? As despesas prolongadas com os aprisionamentos valem os benefícios momentâneos de supostamente deter o crime?”, questiona. Essa linha de pensamento é chamado por Davis de “democracia da abolição”.

 

“A democracia da abolição é, portanto, a democracia que está por vir, a democracia que será possível se dermos continuidade aos grandes movimentos de abolição da história norte-americana, aqueles em oposição à escravidão, ao linchamento e à segregação. Enquanto a indústria do complexo carcerário persistir, a democracia norte-americana continuará a ser falsa. Uma democracia falsa desse tipo reduz o povo e suas comunidades à subsistência biológica mais crua, pois ela os exclui da lei e da sociedade organizada”, explica Angela Davis

 

A ativista do abolicionismo do século XXI é muito objetiva ao dizer que é necessário desmantelar as ferramentas de opressão e não passá-las às mãos daqueles que a criticam. “O desafio do século XXI não é reivindicar oportunidades iguais para participar da maquinaria da opressão, e sim identificar e desmantelar aquelas estruturas nas quais o racismo continua a ser firmado. Este é o único modo pelo qual a promessa de liberdade pode ser estendida às grandes massas”, avalia Davis.

 

Angela Davis também é uma crítica ferrenha a situação das mulheres em cárcere e o assunto ganhou destaque desde a estreia da série Orange is the New Black, que trata do cotidiano de mulheres encarceradas. Em entrevista ao jornal Los Angeles Times, Davis foi questionada se assistia a série e qual era a sua opinião. “Eu não só assisti a série, mas li o livro de memórias [de Piper Kerman , que deu origem a série]. Ela tem uma análise muito mais profunda do que se vê na série, mas como uma pessoa que olhou para o papel das prisões femininas na cultura visual, principalmente filmes, acho que a série não é ruim. Há tantos aspectos que muitas vezes não aparecem em representações de pessoas nessas circunstâncias opressivas. Doze Anos de Escravidão, por exemplo, uma coisa que eu perdi naquele filme era uma sensação de alegria, alguma sensação de prazer, algum senso de humanidade”, critica Davis.

Nos últimos anos, continua a proferir discursos e palestras, principalmente em ambientes universitários e se mantém como uma figura proeminente na luta pela abolição da pena de morte na Califórnia. Em 1977-1978 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz.

 

Recentemente esteve no Brasil, e criticou a ausência de negros em cargos políticos e de destaque no Brasil. Ela foi um dos destaques do Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, em Brasília. Na sua conferência, disse que ficou impressionada com a pouca presença de negros e pardos na política nacional. “Quantos senadores negros há no Brasil? Se olharmos para o Senado não saberíamos que os negros constituem mais de 50% da população brasileira”, questionou.

 

“Não posso falar com autoridade no Brasil, mas às vezes não é preciso ser especialista para perceber que alguma coisa está errada em um país cuja maioria é negra e a representação é majoritariamente branca”, disse.

 

Ela criticou, inclusive, a participação irrisória dos negros nos meios de comunicação. “Sempre assisto TV no Brasil para ver como o país se representa e a TV brasileira nunca permitiu que se pensasse que a população é majoritariamente negra”.

Angela Davis: Inimiga pública número 1 dos E.U.A.

Lélia Gonzales

Muito cedo, a antropóloga, educadora e feminista mineira, Lélia Gonzales aprendeu que, na luta dos movimentos sociais, também existem castas e hierarquias. Por isso, questões específicas como as das mulheres negras, eram subestimadas em favor do chamado "interesse maior". Assim como ocorria nas fotografias da liderança do Movimento Feminista, com as militantes negras, suas reivindicações também eram mantidas na segunda ou na terceira fila. A fidelidade às causas que abraçou - em especial a do feminismo e das relações raciais - foi a principal marca dessa ativista que, em 19 de julho de 1994, aos 59 anos, se transformou em ancestral. Mineira, nascida Lélia Almeida, em Belo Horizonte, ainda criança, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde foram viver na favela do Morro do Pinto, no Santo Cristo, junto ao Leblon. A proximidade com o Clube de Regatas Flamengo deu a um dos irmãos mais velhos, Jaime de Almeida, a oportunidade de se tornar jogador de futebol desse time e posteriormente seu técnico. Não é à toa que, flamenguista roxa, tinha o futebol como um de seus grandes prazeres. Era a penúltima dos 18 filhos e filhas do ferroviário negro Acácio Joaquim de Almeida, com a índia Urcinda Seraphina de Almeida.

Ser retirado de suas antigas moradias, mesmo que precárias, e empurrados para locais menos valorizados, é sina da população negra nos grandes centros urbanos. Das áreas centrais, consideradas nobres, para os morros e, desses, para as periferias e subúrbios, como a Baixada Fluminense. Com a família Almeida não foi diferente: do Morro do Pinto direto para o subúrbio de Ricardo de Albuquerque, loteamento das antigas terras do Engenho Nossa Senhora de Nazaré.

 

Muito tempo depois, na obra Lugar de Negro, que lançou em 1982, com Carlos Hasenbalg, pela editora Marco zero, Lélia escreveu: "O lugar natural do grupo branco dominante são moradias amplas, espaçosas, situadas nos mais belos recantos da cidade ou do campo e devidamente protegidas por diferentes tipos de policiamento: desde os antigos feitores, capitães do mato, capangas, etc., até a polícia formalmente constituída. Desde a casa grande e do sobrado, aos belos edifícios e residências atuais, o critério tem sido sempre o mesmo. Já o lugar natural do negro é o oposto, evidentemente: da senzala às favelas, cortiços, porões, invasões, alagados e conjuntos habitacionais, cujos modelos são os guetos dos países desenvolvidos dos dias de hoje. O critério também tem sido simetricamente o mesmo: a divisão racial do espaço."

 

As constatações de opressão e exclusão de seu povo não fizeram dela uma pessoa amarga. Ao contrário. Com seu riso franco, aberto e fácil, buscava o colorido de nossa cultura, o que a levou a escrever Festas Populares no Brasil, lançado pela Editora Index, em 1987, e premiado na Feira Internacional do Livro, de Leipzig, Alemanha, entre as obras que compõem "os mais belos livros do mundo".

Um exílio após o outro

Formação e militância

A distância e a precariedade dos trens da Central do Brasil não foram impedimento para a menina Lélia estudar. Tampouco de se destacar entre os alunos do tradicional Colégio Pedro II. Posteriormente, graduou-se em História, Geografia e Filosofia. Fez mestrado em comunicação e doutorado em antropologia. Já adotara o sobrenome Gozales - por meio do casamento - quando atuava como assistente no curso de Filosofia, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Dali para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi um pulo. Sua simpatia pelos pensamentos de esquerda tornou-se irrelevante, diante dos seus conhecimentos, da capacidade intelectual e da comunicabilidade que motivaram o convite para ministrar cursos no Centro de Estudos de Pessoal, do Exército Brasileiro. Tudo isso em plena ditadura militar.

 

Muito tempo antes de se imaginar que, um dia, um presidente da república brasileira assinaria a Lei 10.639/03, que modificaria a Lei de Diretrizes e Base do ensino, no país, Lélia já combatia, em sala de aula, a opressão e exclusão de nosso povo. Aprofundava-se nos escritos de grandes pensadores negros daqui, dos Estados Unidos e da África; na história de civilizações africanas e de suas lideranças, nos conhecimentos mais elementares da cultura afro-brasileira. Assim, modificava os paradigmas no imaginário de seus alunos e fortalecia as bases da militância do movimento negro contemporâneo, no período de sua eclosão, na década de 1970.

Enquanto alguns de nossos intelectuais se afastam do povo para vivenciar o glamour e a badalação dos "bem-nascidos" e do universo acadêmico, como uma verdadeira griô, fiel à tradição da oralidade africana, Lélia compartilhava com seu povo histórias que valorizavam nossas origens e produção cultural. Mesmo sendo professora e chefe do Departamento de Sociologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tinha certeza de onde e com quem queria atuar. Numa entrevista à Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos (SEAF) afirmou: "Fiz um tipo de escolha, que foi a militância de rua, participando de organizações negras, de seminários. Na medida em que nós, os intelectuais negros orgânicos, somos tão poucos, realmente existe um grande leque de 

 

atividades para poder responder às exigências que nos são colocadas." Porém, não fugia da raia e ocupava os espaços com sua sabedoria, por exemplo, com o pioneiro curso Cultura Negra no Brasil, que ministrou, por dois anos, na Escola de Artes Visuais, do Parque Lage, escola carioca considerada de elite.

 

Integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, não abandonou, em momento algum, as demais demandas urgentes como a dos afro-brasileiros e dos homossexuais, que constavam em sua plataforma de campanhas para deputada federal, em 1982, pelo PT, e de deputada estadual, em 1986, pelo PDT. Em ambos, ficou como suplente. Porém foi vitoriosa no campo da criação coletiva de organizações, entre elas, o Movimento Negro Unificado, a Escola de Samba do Quilombo, o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), o Nzinga Coletivo de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro; e o Olodum, na Bahia. Seu nome se perpetua em algumas instituições como o Instituto de Educação, Arte e Estudos Afro-Brasileiros Lélia Gonzalez.

 

Por meio da publicação de suas palestras e de debates dos quais participou, foi se cunhando o termo amefricanidade, que se baseia nas experiências diaspóricas, ou seja, a dos descendentes de africanos não só no Brasil, mas em todas as Américas. Ao ler Lélia Gonzales, se tem a certeza de que as diferenças culturais de nossa gente, do lado de cá do Atlântico, são minúsculas, diante de tudo o que temos em comum.

 

 

Onde o povo está

Lelia
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